Não acredite nas palavras, elas não são reais, alguém pode te dizer eu te amo, mas não ser real! As palavras são “realidades”!
Essa
frase carrega uma verdade incômoda, mas muito real. As palavras são, por si só,
só sons ou letras — símbolos que representam algo, mas não garantem a
existência do que dizem. Alguém pode te olhar nos olhos e dizer "eu te
amo", mas essa frase pode estar vazia de sentimento, movida por
conveniência, hábito ou até manipulação. O problema não está exatamente nas
palavras, mas no que falta por trás delas: intenção, coerência, ação.
É
como um "sinto muito" dito automaticamente depois de magoar alguém —
pode soar educado, mas não necessariamente vem com arrependimento. Ou aquele
"vamos marcar algo" que já carrega o vazio do "nunca vai
acontecer". Palavras são “realidades”.
Na
filosofia, Nietzsche desconfiava profundamente da linguagem. Para ele, as
palavras são como máscaras — podem revelar algo, mas também esconder. Em Além
do Bem e do Mal, ele escreve que “todo conceito vem ao mundo com uma
ilusão”, pois tentamos fixar com palavras algo que é sempre fluido.
No
cotidiano, isso acontece muito. Quando alguém diz "está tudo bem" mas
o olhar está perdido, ou "não me importo" quando claramente se
importa. Por isso, talvez seja mais sábio observar os gestos, os silêncios, os
pequenos rituais de cuidado que não se anunciam com frases prontas.
Palavras
são importantes, sim. Mas, sozinhas, não bastam. Como dizia Guimarães Rosa: "as
pessoas não morrem, ficam encantadas". Assim também são as palavras
verdadeiras — encantam, porque estão cheias de presença, mesmo quando são
poucas.
O
amor, por exemplo, se diz muito melhor num gesto simples — como lembrar o tipo
de chá favorito da pessoa — do que num "eu te amo" dito por inércia.
Então,
sim: não acredite cegamente nas palavras. Observe se há vida nelas.
Mas
vamos ampliar a reflexão com essa pergunta poderosa: se as palavras não são
confiáveis, como então enxergar o real? Como tocar a verdade num mundo que fala
demais?
A
resposta pode estar num lugar mais silencioso: a escuta. Mas não a escuta do
que o outro diz — e sim do que o outro é. Ver o real exige observar o que não
precisa ser dito. O corpo fala, os olhos falam, os gestos têm uma linguagem
mais fiel do que qualquer frase ensaiada.
Pensa
nas vezes em que alguém te abraçou sem dizer nada, mas você sentiu que ali
havia verdade. Ou quando alguém te escutou de verdade — não interrompendo, não
opinando, só estando presente. Isso é mais raro que um "eu te amo",
mas talvez muito mais verdadeiro.
A
filósofa Simone Weil dizia que "a atenção pura, sem mistura, é
oração". E talvez seja isso: a alternativa às palavras é a atenção.
Quem vê com atenção, vê o real. Quem escuta com o corpo inteiro, capta o que
está por trás do discurso. A presença verdadeira, silenciosa e sem artifícios,
tem uma força quase mística.
No
dia a dia, isso significa tirar o foco do que se ouve e colocar no que se
percebe. Como a pessoa age quando ninguém está olhando? Como ela trata quem não
pode lhe oferecer nada? Como se move quando não está tentando impressionar?
A
verdade é muitas vezes tímida, discreta, quase muda. E quem se apressa com
palavras demais, quase sempre passa por cima dela sem perceber.
Então,
se as palavras são duvidosas, a alternativa é sentir mais do que ouvir.
Observar mais do que perguntar. Silenciar um pouco dentro de si para que o real
tenha espaço de aparecer, e acima de tudo olhar para pessoa na sua totalidade.