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sexta-feira, 16 de maio de 2025

Espírito de Sofia


 

Sofia. O nome ressoa como algo antigo e universal, evocando o que é eterno, belo e profundo: a sabedoria. Não a sabedoria de livros ou manuais, mas a essência que pulsa no coração da existência, nas entrelinhas do cotidiano, na busca pelo sentido que nos atravessa como seres humanos. "O espírito de Sofia" é, talvez, essa presença silenciosa que nos convida a compreender o mundo de maneira mais ampla e a nós mesmos de maneira mais íntima.

Sofia como Sabedoria Viva

Sofia não é apenas um conceito; ela é uma força ativa. Na tradição filosófica, especialmente na Grécia Antiga, "Sofia" era venerada como a personificação da sabedoria. Platão a via como o ideal da busca filosófica, a meta final de uma vida dedicada ao amor pelo conhecimento. Aristóteles a considerava uma virtude intelectual, um equilíbrio entre a ciência e a intuição, algo que nos liga ao transcendente enquanto permanecemos com os pés no chão.

Porém, o espírito de Sofia não está restrito às teorias dos grandes pensadores. Ele habita os momentos simples e profundos da vida cotidiana: na pausa silenciosa ao observar o céu, na paciência de ouvir alguém que precisa ser ouvido, na arte de tomar decisões com o coração e a mente em harmonia.

Sofia e o Cotidiano: O Invisível que Fala

O espírito de Sofia muitas vezes se manifesta quando menos esperamos. Pense naquele instante em que, diante de um problema aparentemente insolúvel, uma intuição surge, como um sussurro interior. Ou na sensação de conexão ao observar um pôr do sol, quando algo dentro de nós desperta, como se dissesse: “Isso é importante. Isso é verdade.”

O espírito de Sofia está presente quando aprendemos com nossos erros, quando transformamos sofrimento em crescimento e quando reconhecemos que o mundo é maior do que nossos desejos imediatos.

A Sabedoria como Presença Interior

O espírito de Sofia também é um lembrete de que a sabedoria não é algo que vem de fora; ela emerge de dentro. Em um mundo saturado de informações, somos frequentemente tentados a buscar respostas rápidas e fáceis. Mas a verdadeira sabedoria não se revela na pressa; ela floresce na paciência, na contemplação, na capacidade de estar em silêncio consigo mesmo.

Na tradição cristã, a Hagia Sophia é venerada como a Sabedoria Divina, um estado de união com o sagrado. No Oriente, os sábios apontam para a ideia de que o espírito de Sofia é aquele que dissolve as ilusões do ego e nos permite ver a realidade como ela é.

O Comentário de Simone Weil

Simone Weil, filósofa e mística, escreveu certa vez:

"A atenção pura e desinteressada é a forma mais rara e mais pura de generosidade."

O espírito de Sofia, segundo Weil, poderia ser entendido como essa atenção pura: a habilidade de estar presente, de observar o mundo sem julgamento, permitindo que ele nos fale em sua própria linguagem.

Sofia como Resistência ao Ruído Moderno

Em tempos de barulho e distração, o espírito de Sofia pode parecer ausente, mas ele está apenas aguardando nosso retorno. Ele nos convida a pausar, a escutar o silêncio, a reencontrar o significado. É um espírito de resistência ao superficial e ao fugaz, uma âncora em um mundo em constante movimento.

O espírito de Sofia não é uma ideia distante, mas uma realidade que nos atravessa, uma presença que nos convida a viver de forma mais consciente e significativa. Ele está na busca por harmonia, na aceitação da dualidade da vida, na coragem de olhar para dentro e ouvir o que nossa própria alma tem a dizer.

Se Sofia pudesse falar, talvez dissesse:

"Eu não estou longe. Estou em cada momento em que você escolhe viver com profundidade e verdade."

E você? Já sentiu o espírito de Sofia em algum momento do seu dia?

 

domingo, 20 de abril de 2025

Koan Zen

Outro dia, fui fechar a janela do quarto e notei que o vento tinha espalhado umas folhas pelo chão. Nada demais. Só que, enquanto recolhia as folhas, uma pergunta estalou na mente como se tivesse vindo com o vento: “Qual era o meu rosto antes de eu nascer?”. Simplesmente assim, sem cerimônia. Parei com a folha na mão, como quem segura um enigma. E aí me lembrei: isso é um koan.

Os koans são aquelas perguntas malucas (mas estranhamente lúcidas) do Zen budismo, feitas para arrebentar as amarras da lógica comum. Tipo: “Qual o som de uma palma só?” ou “Se você encontrar o Buda pelo caminho, mate-o.” Não é poesia, nem enigma para decifrar com inteligência. É mais como uma pedrinha lançada no lago da mente — o objetivo não é responder, mas desinstalar o programa racional.

O enigma que não quer resposta

Koans não têm respostas claras. E é exatamente isso que os torna tão potentes. Eles não querem ser compreendidos, querem ser vividos. Como uma crise existencial às três da manhã. Como um pôr do sol que te faz chorar sem saber por quê.

Diferente dos dilemas da filosofia ocidental, que muitas vezes tentam organizar o pensamento e encontrar uma saída lógica, os koans são implosões. Eles colocam a gente diante de um limite — o ponto em que o raciocínio tropeça. E nesse tropeço, abre-se o chão. Quem cai, acorda. Pelo menos é o que dizem os mestres Zen.

Koan no cotidiano: a contradição que revela

Imagine que você está esperando um ônibus que está sempre atrasado. Vem aquela raiva. Você pensa: “Por que sempre comigo?” — e já começa a se armar contra o mundo. Mas, de repente, alguém do lado diz: “O ônibus chega quando você parar de esperar.” Parece piada, mas é quase um koan. É uma afirmação que não quer te consolar, mas quebrar o eixo da sua espera ansiosa. E se o ônibus, ou qualquer outra coisa, só chega quando a gente se esvazia da expectativa?

Um amigo me contou que, quando estava se recuperando de uma separação, uma senhora japonesa da vizinhança disse apenas: “O bambu entorta, mas não quebra.” Ele riu, achou bonito, mas só meses depois entendeu. Não com a mente, mas com o corpo, com o tempo, com o sentir.

Filosofia do absurdo lúcido

Dá pra pensar os koans como aquilo que o filósofo francês Albert Camus chamaria de “o absurdo”. Mas ao invés de se angustiar com o silêncio do universo, o Zen sorri para ele. O koan é esse sorriso, desconcertante e silencioso.

O brasileiro Huberto Rohden, em sua ponte entre mística oriental e filosofia ocidental, falava da necessidade de uma “inteligência intuitiva”, capaz de perceber além dos conceitos. Os koans vivem exatamente aí — onde a mente se rende, e o coração começa a ouvir.

Quando o koan vira espelho

A mágica (ou o terror) de um koan é que ele sempre devolve a pergunta pra você. “Quem está ouvindo este som?” “Quem você é quando não está sendo ninguém?” — São perguntas que não apontam para fora, mas fazem o espelho se transformar em abismo.

E talvez o mais inovador seja isso: o koan é uma anti-filosofia que filosofa por choque, por quebra, por vazio. É como se dissesse: “Enquanto você tentar entender, não vai perceber.” É um chamado para estar, não para saber.

Conclusão? Nem pensar.

No espírito dos koans, talvez o melhor seja terminar este ensaio com um vazio. Ou com outra pergunta:

Se você fechar os olhos agora, onde você está?

Talvez a resposta venha com o vento. Ou com a folha que escapou pela janela.