Vamos falar sobre encontros, caminhos e o inesperado da vida: enquanto, "Uns cruzam, outros permanecem”.
Outro
dia, estava sentado num banco de praça esperando o tempo passar ou talvez
esperando que alguma ideia me atravessasse, fiquei observando o movimento das pessoas.
Um senhor com uma bengala parou por alguns segundos ao lado de uma mulher que
falava ao celular — por um breve instante, os dois compartilharam o mesmo
espaço, mas logo seguiram caminhos diferentes. E foi ali, entre um passo e
outro, que pensei: quantos encontros nos atravessam todos os dias sem que
percebamos?
Alguns
encontros são como trens em estações diferentes: passam rápido, fazem barulho,
deixam rastros, mas vão embora. Outros, no entanto, chegam devagar, estacionam,
e ficam. Há também aqueles que nem percebemos que foram encontros, mas que,
anos depois, retornam como uma lembrança insistente, uma saudade que não
sabíamos que tínhamos.
A
vida se faz nesses cruzamentos. Mas o mais curioso é que não controlamos quem
passa por nós, nem quando. Existe uma espécie de coreografia secreta entre o
acaso e o destino — e nós, meio desajeitados, tentamos dançar essa dança sem
saber muito bem os passos.
O
filósofo francês Emmanuel Lévinas dizia que o rosto do outro nos convoca — nos
tira de nós mesmos, nos inquieta. Talvez por isso alguns encontros nos deixam
em estado de alerta, de emoção, de transformação. Aquele que cruza o nosso
caminho e nos olha de um jeito que muda algo por dentro, ainda que não diga
nada. Lévinas via no encontro com o outro uma abertura para o infinito. Não um
infinito metafísico, distante, mas um que começa aqui, no olhar de alguém que
nos atravessa.
E,
ao contrário do que muitos pensam, não são apenas os grandes encontros — os
amores da vida, os amigos de alma, os mentores — que nos transformam. Às vezes,
é o entregador que sorri mesmo debaixo da chuva, é a criança que nos observa no
ônibus como se fôssemos personagens de uma história. São esses encontros que
costuram o tecido do cotidiano com pequenos pontos de humanidade.
Mas
há também os desencontros. Aqueles que nos frustram, que nos fazem perguntar “e
se?”. E se eu tivesse dito algo? E se eu tivesse ficado? E se eu tivesse olhado
pra trás? Acontece que o tempo não tem tecla de "voltar". E talvez a
vida, sábia do jeito que é, saiba a medida exata entre o que permanece e o que
apenas passa. Porque, no fundo, tudo que nos atravessa, mesmo que vá embora,
nos deixa um pouco diferentes do que éramos antes.
A
arte de viver, talvez, seja aceitar que nem tudo o que cruza o nosso caminho
está destinado a caminhar ao nosso lado. Alguns vêm apenas para nos ensinar a
dizer adeus, outros para nos lembrar como é bom dizer "olá". Há quem
fique uma vida, há quem fique um instante. Mas todos, de alguma forma, fazem
parte da narrativa que somos.
E
quando olhamos pra trás, não vemos uma linha reta. Vemos um mapa tortuoso de
encontros, desvios, permanências e ausências. Um emaranhado bonito e doloroso
que chamamos de vida.
Então,
que a gente aprenda a acolher os que cruzam, a valorizar os que ficam e a
soltar com gratidão os que seguem outro rumo. No fim das contas, todos somos
viajantes tentando entender onde termina o nosso caminho e onde começa o do
outro — e se, por acaso, podemos caminhar juntos por mais um trecho.
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