Então, vamos a um sutra filosófico sobre o peso da resistência e a leveza do fluxo!
A
vida se move como um rio. Parece óbvio quando dito assim, mas raramente nos
damos conta de que as grandes dores que carregamos vêm, muitas vezes, da nossa
tentativa de paralisar a corrente. Aquele trabalho que já não nos inspira, mas
que insistimos em manter. A amizade que se tornou um campo de batalhas, mas da
qual não conseguimos nos afastar. A imagem de nós mesmos que congelamos no
tempo, como se ainda fôssemos os mesmos de ontem.
É
nesse ponto que o sūtra ecoa: "Tudo o que resiste à mudança, envelhece
antes do tempo; tudo o que flui com a vida, renova-se sem cessar."
A
resistência à mudança é uma forma de endurecimento. No começo, parece uma
defesa natural — uma maneira de nos proteger do incerto. Mas, pouco a pouco,
torna-se uma prisão invisível. Quando negamos o movimento natural da vida, não
apenas atrasamos o que poderia nos acontecer: nós mesmos envelhecemos no
espírito, mesmo que o corpo ainda seja jovem. Um coração que insiste em se
fechar não apenas evita novas feridas, mas também impede novos amores.
Em
contrapartida, quem aprende a fluir com a vida — aceitando os ciclos de início
e fim, os desvios inesperados, as perdas que abrem espaço para o novo — carrega
dentro de si uma fonte de renovação constante. Não é que não sinta dor ou medo.
É que não se apega ao medo como desculpa para parar. Fluir não é ser passivo: é
dançar com o que a vida traz, às vezes com passos incertos, mas sem abandonar a
música.
Vejo
isso em cenas pequenas do cotidiano. Um senhor de idade que, mesmo depois de
uma vida inteira em um só bairro, ainda sorri curioso para o novo mercado que
abriram na esquina. Uma jovem que, depois de muito sofrer por um amor, consegue
rir de si mesma ao contar a história. Um trabalhador que, em meio à monotonia
de sua rotina, encontra uma alegria sincera em pequenas mudanças: um caminho
diferente até o trabalho, um livro novo lido no ônibus.
O
filósofo Heráclito já dizia que "ninguém entra duas vezes no mesmo rio,
pois o rio já não é o mesmo, e nem ele próprio é o mesmo." Viver é
aceitar que estamos sempre em trânsito — entre quem fomos, quem somos e quem
estamos nos tornando.
E, curiosamente, é essa aceitação que nos mantém vivos de verdade. Quem flui
não se apressa em ser jovem ou teme ser velho: simplesmente se renova, porque
segue sendo aprendiz da vida.
Talvez,
no fim, a pergunta que devemos nos fazer não seja "o que posso
controlar?", mas sim "com que coragem posso fluir hoje?".
A
resposta nunca será final — mas será sempre viva.
Resistir
às mudanças da vida é criar rigidez onde deveria haver movimento. Quando
negamos o fluxo natural dos acontecimentos, envelhecemos por dentro antes do
tempo. Em contraste, aceitar a impermanência nos renova continuamente. Quem
flui com a vida, mesmo tropeçando, permanece jovem na alma, aprendendo e se
recriando a cada dia. Viver, afinal, é mais sobre coragem para mudar do que
sobre medo de perder.
“A
vida é rio, e o rio não pergunta para onde vai.”
“É
no abrir das margens, no aceitar da curva, que ele se torna vasto.”
“Quem
endurece, quebra; quem flui, canta.”
“Não
há juventude eterna no corpo, mas há juventude eterna no espírito de quem sabe
deixar-se mover.”
“Cada
manhã pede um pequeno gesto de coragem:
desatar o nó, soltar o remo, confiar no
invisível.”
“Porque
o que resiste, envelhece. E o que flui, renasce.”
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