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sexta-feira, 18 de abril de 2025

Viabilidade Contestada

Quando a Realidade se Recusa a Colaborar

Outro dia, tomando um café forte, escutei alguém dizer: "Isso aí não vai dar certo. Não é viável." A sentença era definitiva, como se a viabilidade fosse um juiz infalível, pronto para arquivar qualquer tentativa ousada. Fiquei pensando: e se a própria ideia de viabilidade fosse um conceito contestável? Afinal, quantas coisas hoje comuns foram, um dia, consideradas impossíveis?

A viabilidade, no discurso cotidiano, parece uma métrica neutra, uma régua que mede se algo pode ou não acontecer. Mas será que ela é realmente objetiva? Ou será que é apenas um reflexo de crenças, interesses e padrões aceitos num determinado tempo e espaço? Quando algo é chamado de inviável, não estamos apenas descrevendo a realidade, mas também reforçando um certo modo de ver o mundo, delimitando o que pode e o que não pode existir.

A Ilusão do Impossível

Se voltarmos no tempo, veremos que muitas das grandes transformações da humanidade nasceram de tentativas de desafiar o senso comum da viabilidade. Voar? Inviável, diziam. Computadores pessoais? Um absurdo. O simples fato de conceber algo novo já implica um enfrentamento com o estabelecido. O status quo precisa se proteger, e a alegação de inviabilidade muitas vezes é uma estratégia de contenção.

Aqui podemos recorrer a Gaston Bachelard, que nos fala sobre os obstáculos epistemológicos – barreiras invisíveis ao pensamento que nos fazem descartar possibilidades antes mesmo de testá-las. Não é que algo seja realmente inviável, mas nossa forma de pensar o impede de ser viável. O medo da ruptura, a inércia da tradição e o conformismo são os verdadeiros carrascos da inovação.

Viabilidade e Poder

Curiosamente, o que é viável e o que não é depende de quem fala. O dinheiro transforma a inviabilidade em detalhe técnico. Grandes corporações conseguem tornar viável o que parecia impensável, simplesmente porque têm recursos para insistir. Isso revela que a viabilidade não é um critério universal, mas um campo de disputa. O que é viável para um pode ser impossível para outro.

A filósofa brasileira Suely Rolnik nos alerta para os mecanismos de subjetivação que moldam nossa percepção do que é possível. Quando absorvemos sem questionar a ideia de inviabilidade, estamos aceitando um modelo de mundo imposto por forças que nem sempre têm nossos interesses em mente. A viabilidade contestada não é apenas um exercício teórico; é um ato de resistência contra os limites arbitrários do possível.

O Que Fazer com a Inviabilidade?

Se toda viabilidade pode ser contestada, então não devemos tomá-la como um veredito definitivo. O que hoje parece impraticável pode ser, na verdade, apenas um sintoma de uma visão restrita da realidade. Questionar a viabilidade não significa ignorar desafios concretos, mas reconhecer que o impossível pode ser apenas uma convenção mal elaborada.

Então, quando alguém lhe disser que algo não é viável, talvez valha a pena perguntar: para quem? E por quê?


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