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segunda-feira, 7 de abril de 2025

Ruminações Metafísicas

Quando o pensamento tropeça no silêncio

Outro dia, entre uma bolacha cream cracker e uma chuva que parecia indecisa entre cair ou não, comecei a pensar naquelas perguntas que não têm começo, nem meio, muito menos fim. Aquelas perguntas que não servem pra nada, mas também não deixam a gente em paz: "O que é o real?", "O que existe além do que se pode dizer?", "Por que existe algo e não nada?". São perguntas que a gente escuta no ônibus, na mesa de bar, ou então quando está sozinho demais.

Foi aí que me veio Wittgenstein, não como quem chega com a resposta, mas como quem olha com estranhamento e diz: “Será que essa pergunta faz sentido?”.

O limite do mundo é o limite da linguagem

Wittgenstein, especialmente em sua primeira fase no Tractatus Logico-Philosophicus, joga um balde de água fria nas nossas ruminações metafísicas: "Os limites da minha linguagem significam os limites do meu mundo." E isso muda tudo. De repente, não é mais sobre o que existe ou não existe, mas sobre o que pode ser dito com clareza.

Quer dizer: se eu não consigo colocar em palavras aquilo que estou tentando pensar, talvez o problema não seja o pensamento em si, mas a linguagem que estou usando pra tentar pensar isso. O que escapa à linguagem, escapa ao mundo. E nesse silêncio se esconde a metafísica.

Mas e o cheiro da infância?

Mesmo assim, o ser humano insiste. E eu também. Porque há sensações, intuições, percepções que não cabem na linguagem — mas que nem por isso deixam de parecer reais. O cheiro da casa da minha avó, por exemplo. Eu posso descrever: cheiro de madeira velha, de café passado, de roupa recém lavada... Mas nada disso é o cheiro. É só a moldura.

E aí a pergunta muda: será que o problema está na linguagem... ou na nossa expectativa de que a linguagem consiga dar conta do que sentimos?

Quando a linguagem nos trai

Na segunda fase de Wittgenstein, nos Investigações Filosóficas, ele abandona a ideia de uma linguagem com estrutura rígida e perfeita. Em vez disso, começa a ver a linguagem como um conjunto de "jogos de linguagem" — usos diversos, conforme a situação. Falar de amor não é o mesmo que descrever uma receita de bolo.

Nesse ponto, Wittgenstein começa a rir junto com a gente. A metafísica deixa de ser uma questão de descobrir verdades ocultas e passa a ser uma espécie de mal-entendido. “Filosofia é uma luta contra o enfeitiçamento do nosso entendimento pela linguagem”, ele diz.

Ou seja, muitas vezes o que a gente chama de "problema metafísico" é só uma palavra que escapou do seu uso comum e foi parar num lugar onde não deveria estar.

A beleza do que não se pode dizer

Mas e se a gente aceitasse o convite do silêncio? Se, em vez de forçar a linguagem a carregar o peso de tudo o que sentimos e intuímos, a gente simplesmente respeitasse o que ela não consegue dizer? Não como fracasso, mas como poesia.

Como quando olhamos pro mar e não dizemos nada. Como quando alguém morre e o silêncio é mais respeitoso do que qualquer explicação. Como quando a gente ama e não sabe dizer por quê — e ainda assim ama.

Considerações finais de um cream cracker filosófico

A metafísica, talvez, não seja um lugar onde se chega, mas um caminho cheio de pegadas confusas. Wittgenstein nos lembra que esse caminho, muitas vezes, é traçado por palavras que tropeçam nelas mesmas. E mesmo assim, continuamos a andar. Porque há algo em nós que deseja mais do que pode ser dito.

Talvez seja como ele mesmo escreve na última frase do Tractatus:

“Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar.”

Mas que silêncio bonito, esse.

Silêncio que não responde, mas faz companhia.


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