Às vezes, tudo o que a gente precisa é de um bom travesseiro. Não um ombro amigo, nem um brainstorm, nem aquela lista de prós e contras que a gente rabisca compulsivamente na contracapa de um caderno velho. Só o travesseiro mesmo — e umas boas horas de sono.
Já
aconteceu com você? Um problema cabeludo, que parecia sem saída, e no dia
seguinte, depois de uma noite de sono, a solução simplesmente aparece. Como se
a mente, livre da vigilância do ego, tivesse feito um trabalho silencioso
durante a madrugada. É quase mágico. Mas também é ciência — e filosofia.
O
cérebro que trabalha enquanto dorme
Neurocientistas
já observaram que o cérebro não desliga quando dormimos; ele apenas muda de
operação. Durante o sono REM (aquele dos sonhos mais vívidos), as áreas ligadas
à criatividade e à memória se ativam como se estivessem em uma oficina noturna.
É como se o inconsciente começasse a brincar de quebra-cabeça com tudo que a
gente viveu e pensou no dia.
Tem
até nome: incubação criativa. Você absorve o problema, esquece dele
(conscientemente), e deixa que o inconsciente faça o serviço. Quando acorda,
plim — uma nova perspectiva.
Sonhos
com respostas
E
quando a resposta vem em forma de sonho? Aí é ainda mais curioso. Mendeleev
sonhou com a tabela periódica. Paul McCartney sonhou com a melodia de
Yesterday. Até Kekulé afirmou ter descoberto a estrutura do benzeno depois de
sonhar com uma cobra mordendo o próprio rabo.
Será
que os sonhos são apenas devaneios, ou códigos que nossa mente usa para revelar
soluções que ela já sabia, mas a gente ainda não?
Cotidiano
e travesseiros milagrosos
É
engraçado como isso se aplica a pequenas coisas também. Um e-mail que não
conseguimos escrever de jeito nenhum — e no dia seguinte, a frase certa vem com
o café. Uma discussão mal resolvida, que no sonho reaparece com um desfecho
diferente, mais justo, mais pacífico. Uma decisão complicada, que acorda leve,
como se a alma já soubesse a resposta.
E
às vezes, sonhar com a solução não é sonhar com um plano concreto, mas com uma
sensação. Uma imagem simbólica, um clima emocional. Acordamos e pensamos: agora
eu sei o que fazer. Mesmo sem saber explicar exatamente como.
Um
filósofo comenta
O
filósofo Gaston Bachelard, que gostava de brincar com a lógica dos sonhos,
escreveu:
"O sonho é uma espécie de vida subtil que nos reconcilia com a
profundidade das coisas."
Ele acreditava que os sonhos podiam ser mais verdadeiros que a vigília — porque
neles, a alma tem liberdade para combinar, recombinar, imaginar. E às vezes,
para encontrar.
O
melhor aplicativo de produtividade pode ser o travesseiro
Antes
de espremer mais uma hora de raciocínio forçado na madrugada, talvez seja
melhor desligar o computador, escurecer o quarto e confiar. Às vezes, dormir é
o passo mais inteligente a dar. Porque enquanto você dorme, o problema pode
estar se reorganizando sozinho. E o travesseiro, silencioso, se transforma em
conselheiro, analista e editor criativo.
No fim das contas, sonhar é uma forma de pensar — só que com os olhos fechados.
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