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sábado, 16 de agosto de 2025

O Inédito Viável

Sementes de um Futuro Não Autorizado

Paulo Freire falava do inédito viável como quem segura uma semente entre os dedos: é pequena, discreta, quase invisível, mas carrega dentro dela uma floresta inteira. É aquilo que ainda não existe, mas pode existir — não por milagre, e sim porque alguém ousa imaginar e agir.

No Brasil de hoje, o inédito viável não está só nos grandes planos de governo ou nos discursos inflamados. Ele se esconde no detalhe, no gesto quase anônimo: na vizinhança que transforma um terreno baldio em horta comunitária; no grupo de estudantes que cria um jornal escolar para falar do que a direção prefere silenciar; no artista que ocupa um espaço abandonado e o devolve à cidade como galeria aberta.

Esses gestos não são simples atos de resistência; são projetos de mundo. Como diria Freire, é quando se recusa o “sempre foi assim” e se insiste em perguntar “e se fosse diferente?”. É a educação como prática de liberdade, não como adestramento. É a política como construção coletiva, não como espetáculo distante.

O inédito viável também é um ato de risco: ele desafia quem lucra com a estagnação. Ele incomoda porque antecipa o futuro antes que o poder o autorize. Por isso, muitas vezes, começa nas margens — na periferia geográfica, social ou simbólica — para depois irradiar para o centro.

No fundo, é isso que liga o inédito viável à contracultura: ambos nascem da recusa ao roteiro pronto. Ambos entendem que o novo não é um presente caído do céu, mas um fruto cultivado na terra da esperança e da teimosia. E ambos sabem que, para florescer, o amanhã precisa que alguém ouse cuidar dele hoje.