Sementes de um Futuro Não Autorizado
Paulo
Freire falava do inédito viável como quem
segura uma semente entre os dedos: é pequena, discreta, quase invisível, mas
carrega dentro dela uma floresta inteira. É aquilo que ainda não existe, mas
pode existir — não por milagre, e sim porque alguém ousa imaginar e agir.
No
Brasil de hoje, o inédito viável não está só nos grandes planos de governo ou
nos discursos inflamados. Ele se esconde no detalhe, no gesto quase anônimo: na
vizinhança que transforma um terreno baldio em horta comunitária; no grupo de
estudantes que cria um jornal escolar para falar do que a direção prefere
silenciar; no artista que ocupa um espaço abandonado e o devolve à cidade como
galeria aberta.
Esses
gestos não são simples atos de resistência; são projetos de mundo. Como diria
Freire, é quando se recusa o “sempre foi assim” e se insiste em perguntar “e se
fosse diferente?”. É a educação como prática de liberdade, não como
adestramento. É a política como construção coletiva, não como espetáculo
distante.
O
inédito viável também é um ato de risco: ele desafia quem lucra com a
estagnação. Ele incomoda porque antecipa o futuro antes que o poder o autorize.
Por isso, muitas vezes, começa nas margens — na periferia geográfica, social ou
simbólica — para depois irradiar para o centro.
No
fundo, é isso que liga o inédito viável à contracultura: ambos nascem da recusa
ao roteiro pronto. Ambos entendem que o novo não é um presente caído do céu,
mas um fruto cultivado na terra da esperança e da teimosia. E ambos sabem que,
para florescer, o amanhã precisa que alguém ouse cuidar dele hoje.