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sábado, 3 de maio de 2025

Amor Filosófico

Dizem que o amor cega, mas talvez ele apenas abra os olhos para um mundo que não se encaixa nas categorias rígidas da razão. Numa conversa de bar ou numa caminhada solitária, ele pode surgir como um problema filosófico: o que é o amor? Sentimento? Escolha? Ilusão? Ou uma estrutura profunda que sustenta a própria experiência de existir?

O amor filosófico não é apenas um conceito abstrato dos livros, mas uma força que molda nossa relação com a verdade, a ética e a própria identidade. Platão, por exemplo, em "O Banquete", descreve o amor como um desejo de alcançar o Belo e o Bem, uma escada que leva da paixão carnal à contemplação do divino. Spinoza, por outro lado, vê o amor como um caminho para a liberdade, pois amar é compreender, e compreender é dissolver as correntes do medo e da ignorância.

Mas o amor filosófico não precisa ser apenas uma busca transcendente. Ele pode ser um método de viver. Nietzsche provocaria: e se amássemos sem querer domesticar o outro? Sem projetar nele nossas carências e expectativas? Hannah Arendt talvez nos lembrasse que o amor tem um caráter político: ele constrói laços, mas também pode destruir, afastando-nos do espaço público e nos encerrando numa bolha subjetiva.

Hoje, vivemos em tempos onde o amor se tornou um mercado de performances. Persegue-se a compatibilidade algorítmica, romantiza-se a ideia de "alma gêmea", mas teme-se o compromisso real, que exige trabalho e transformação. Talvez seja hora de resgatar o amor como um ato filosófico, onde amar não é consumir o outro, mas criar junto com ele um mundo que antes não existia.

Se o amor cega, que seja apenas para que possamos enxergar além das aparências, além da superfície das convenções e das fórmulas prontas. Um amor filosófico é aquele que pergunta, que se inquieta, que não se contenta com a resposta fácil. Talvez, no fim das contas, amar seja uma forma de filosofar – e filosofar, a mais intensa forma de amar.

 


sábado, 26 de abril de 2025

Leveza do Fluxo

Então, vamos a um sutra filosófico sobre o peso da resistência e a leveza do fluxo!

A vida se move como um rio. Parece óbvio quando dito assim, mas raramente nos damos conta de que as grandes dores que carregamos vêm, muitas vezes, da nossa tentativa de paralisar a corrente. Aquele trabalho que já não nos inspira, mas que insistimos em manter. A amizade que se tornou um campo de batalhas, mas da qual não conseguimos nos afastar. A imagem de nós mesmos que congelamos no tempo, como se ainda fôssemos os mesmos de ontem.

É nesse ponto que o sūtra ecoa: "Tudo o que resiste à mudança, envelhece antes do tempo; tudo o que flui com a vida, renova-se sem cessar."

A resistência à mudança é uma forma de endurecimento. No começo, parece uma defesa natural — uma maneira de nos proteger do incerto. Mas, pouco a pouco, torna-se uma prisão invisível. Quando negamos o movimento natural da vida, não apenas atrasamos o que poderia nos acontecer: nós mesmos envelhecemos no espírito, mesmo que o corpo ainda seja jovem. Um coração que insiste em se fechar não apenas evita novas feridas, mas também impede novos amores.

Em contrapartida, quem aprende a fluir com a vida — aceitando os ciclos de início e fim, os desvios inesperados, as perdas que abrem espaço para o novo — carrega dentro de si uma fonte de renovação constante. Não é que não sinta dor ou medo. É que não se apega ao medo como desculpa para parar. Fluir não é ser passivo: é dançar com o que a vida traz, às vezes com passos incertos, mas sem abandonar a música.

Vejo isso em cenas pequenas do cotidiano. Um senhor de idade que, mesmo depois de uma vida inteira em um só bairro, ainda sorri curioso para o novo mercado que abriram na esquina. Uma jovem que, depois de muito sofrer por um amor, consegue rir de si mesma ao contar a história. Um trabalhador que, em meio à monotonia de sua rotina, encontra uma alegria sincera em pequenas mudanças: um caminho diferente até o trabalho, um livro novo lido no ônibus.

O filósofo Heráclito já dizia que "ninguém entra duas vezes no mesmo rio, pois o rio já não é o mesmo, e nem ele próprio é o mesmo." Viver é aceitar que estamos sempre em trânsito — entre quem fomos, quem somos e quem estamos nos tornando.
E, curiosamente, é essa aceitação que nos mantém vivos de verdade. Quem flui não se apressa em ser jovem ou teme ser velho: simplesmente se renova, porque segue sendo aprendiz da vida.

Talvez, no fim, a pergunta que devemos nos fazer não seja "o que posso controlar?", mas sim "com que coragem posso fluir hoje?".

A resposta nunca será final — mas será sempre viva.

Resistir às mudanças da vida é criar rigidez onde deveria haver movimento. Quando negamos o fluxo natural dos acontecimentos, envelhecemos por dentro antes do tempo. Em contraste, aceitar a impermanência nos renova continuamente. Quem flui com a vida, mesmo tropeçando, permanece jovem na alma, aprendendo e se recriando a cada dia. Viver, afinal, é mais sobre coragem para mudar do que sobre medo de perder.

“A vida é rio, e o rio não pergunta para onde vai.”

“É no abrir das margens, no aceitar da curva, que ele se torna vasto.”

“Quem endurece, quebra; quem flui, canta.”

“Não há juventude eterna no corpo, mas há juventude eterna no espírito de quem sabe deixar-se mover.”

“Cada manhã pede um pequeno gesto de coragem:

   desatar o nó, soltar o remo, confiar no invisível.”

“Porque o que resiste, envelhece. E o que flui, renasce.”


segunda-feira, 31 de março de 2025

Estresse Filosófico

Outro dia me vi perdido em uma daquelas situações onde tudo faz sentido demais. O tipo de problema que não é confuso porque falta clareza, mas porque há clareza demais — uma sequência de raciocínios tão bem amarrada que parece um labirinto onde cada caminho é correto, mas ainda assim não se acha a saída.

Esse é o que poderíamos chamar de estresse lógico e filosófico. Um cansaço mental que vem não da ausência de respostas, mas do excesso delas — como se a mente fosse uma máquina que não consegue parar de gerar hipóteses perfeitamente racionais, mas incapazes de aliviar qualquer angústia.

O estresse lógico aparece naquelas noites de insônia em que você se pergunta se tomou a decisão certa, repassando argumentos prós e contras como se fosse um advogado dentro da própria cabeça. Ou nas discussões em que ambas as partes estão certas, mas a questão continua aberta. A lógica, nesses momentos, se torna uma corrente que nos prende à tarefa de pensar até o fim — como se houvesse sempre mais um detalhe a ser considerado.

Há algo de cruel nisso. Pensar, essa ferramenta tão humana, pode se virar contra nós quando deixa de ser meio e vira fim. É quando o pensamento se fecha sobre si mesmo, em círculos perfeitos que não oferecem nenhuma válvula de escape.

O filósofo N. Sri Ram tem uma pista para sair dessa armadilha. Ele dizia que "o pensamento analítico tem seu lugar, mas não pode tocar a essência da vida". Segundo ele, há um tipo de compreensão que vai além da lógica — uma percepção direta, quase intuitiva, que só acontece quando a mente descansa de suas próprias operações.

Talvez o segredo seja interromper o processo. Soltar o raciocínio como quem solta uma pipa — deixar que ele voe um pouco mais longe, sem tanta vigilância. Porque o que nos liberta não é necessariamente encontrar a resposta certa, mas permitir que o silêncio ocupe o lugar que o pensamento não consegue alcançar.

O estresse lógico, no fim das contas, não é só um problema mental — é um lembrete de que a vida não cabe inteira dentro de esquemas. Às vezes, a melhor decisão é aquela que tomamos sem ter certeza absoluta. E a melhor filosofia é aquela que sabe quando parar de pensar.


quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Inaugurando um mate filosófico: Vivendo Além da Vida com Um Olhar Descontraído sobre o Tempo e o Legado com Nietzsche e Foucault


Ah, o tempo - esse misterioso e incontrolável fluxo que define nossas vidas e, de alguma forma, nos faz sentir como se estivéssemos em um eterno jogo de esconde-esconde com ele. Às vezes, nos deparamos com conceitos que desafiam nossa noção habitual de tempo e idade, nos fazendo arquear as sobrancelhas e questionar a lógica da vida. Um desses momentos é quando nos damos conta de que, de alguma maneira, estamos "mais velhos" que nosso pai. Mas espera aí, não é esse o tipo de coisa que contradiz a ordem natural das coisas?

Num momento descontraído apreciando o sorver do mate amargo, resolvi jogar uma luz descontraída sobre esse paradoxo peculiar. Mentalmente resolvi desvendar a teia de percepções e ideias que nos fazem sentir que, de certa forma, estamos vivendo além do tempo do meu pai, mesmo após sua partida. Pensei em explorar como a influência eterna deles nos afeta e como o legado que deixam continua a envelhecer conosco. Afinal, talvez, em algum lugar entre as linhas do tempo e as lições aprendidas, possamos encontrar um entendimento inusitado sobre o que significa viver, mesmo depois da última respiração. Cruzei o portal do tempo e embarquei nessa jornada filosófica e paradoxal, e quem sabe, poderia encontrar um novo olhar sobre minha/nossa própria existência.

A vida é uma jornada marcada por paradoxos intrincados e questões sem resposta definitiva. Um desses paradoxos se apresentou quando refleti sobre a ideia de ser mais velho que meu progenitor já falecido, o que a princípio parecia uma contradição lógica, revelou-se uma oportunidade de explorar os limites do tempo e da continuidade da existência, hoje tenho os cabelos brancos que meu pai não teve tempo de branquear os seus, coisa que o tempo em seu jogo de transformações joga sobre todos nós as marcas de quem viveu bastante e caminhou de mãos dadas com ele.

Convidei Nietzsche para tomar o mate comigo e refletirmos a respeito do tema, o convidei por ser um dos pensadores mais "fora da caixa" da filosofia. Esse cara tinha uma visão sobre o tempo e a existência que era uma verdadeira montanha-russa intelectual. Nietzsche nos convida a repensar a vida além das regras convencionais e a abraçar a complexidade do nosso ser. Agora, pensemos nesse paradoxo de ser "mais velho" que o pai. Nietzsche nos diria para questionar tudo, inclusive nossa noção tradicional de tempo. Ele nos encorajaria a olhar para a influência duradoura que nossos pais têm em nós, mesmo após sua passagem, e ver isso como uma continuação de sua existência. É como se estivéssemos dançando ao ritmo da música que nossos pais começaram a tocar, e a festa continua mesmo depois que eles saíram da sala. Vamos explorar como Nietzsche pode nos ajudar a desconstruir as ideias convencionais de tempo, envelhecimento e legado, e quem sabe, descobrir uma nova maneira de abraçar o eterno movimento da vida, mesmo quando parece que a música parou. Afinal, se há alguém que sabia como fazer uma revolução filosófica, era esse cara de bigode peculiar! Então, vamos entrar na dança e ver onde ela nos leva.

Entre um mate e outro, numa pausa Nietzsche sugeriu trazer a metáfora do "martelo" para adicionar uma camada interessante à nossa reflexão sobre o paradoxo da longevidade póstuma, falou sobre a necessidade de sermos como um "martelo" em relação às nossas crenças e ideias. Ele nos convidava a questionar e desafiar as noções estabelecidas, a fim de criar novos entendimentos e perspectivas. Assim como um martelo que quebra algo em pedaços para possibilitar a construção de algo novo, nós, como indivíduos, devemos questionar as noções tradicionais de tempo e existência.

Nesse contexto, concordei com Nietzsche, podemos aplicar a metáfora do martelo para quebrar a rigidez da percepção linear do tempo, ao questionar a noção convencional de "ser mais velho que o pai", estamos, de certa forma, empunhando o martelo de Nietzsche para quebrar as limitações que essa ideia aparente impõe. Ao quebrar essa rigidez, podemos ver a longevidade póstuma não como uma contradição, mas como uma expansão do conceito de tempo e existência. A influência contínua dos pais e o legado cultural se tornam os fragmentos que nos permitem construir uma compreensão mais rica e nuanceada do que significa envelhecer além das fronteiras convencionais, as vezes é preciso empunhar o "martelo" filosófico de Nietzsche e, com determinação, quebrar as barreiras que nos limitam a uma visão unilateral do tempo e da existência e ver que, às vezes, a chave para a sabedoria está em desafiar nossas ideias preconcebidas e abraçar o desconhecido com coragem.

O Tempo e Sua Complexidade: O tempo, entidade abstrata que estrutura nossa realidade, é fonte de inúmeras indagações filosóficas, em nossa compreensão cotidiana, o tempo flui em uma direção única, da juventude para a velhice, da concepção à morte. Entretanto, ao considerar a morte de uma figura paterna, somos compelidos a reavaliar essa perspectiva linear, é uma sensação estranha que nos retira desta linha até então aparentemente segura.

O Paradoxo da Longevidade Póstuma: Ao morrer, um pai deixa um legado duradouro. Se considerarmos a influência contínua desse legado sobre o filho, é possível argumentar que, em certo sentido, a presença do pai persiste mesmo após sua morte. A sabedoria transmitida, os ensinamentos e as lembranças permanecem vivos na mente e no coração do filho, aprendemos através de nossa vivência a ver como fazer ou não fazer da vida uma experiência boa ou ruim.

Nessa análise, pude vivenciar um tempo pós-morte do pai, em que a influência e as lições continuam a moldar minha jornada. Portanto, o filho se torna "mais velho" na experiência acumulada após a morte do pai, mesmo que isso contradiga a interpretação linear convencional da passagem do tempo, a memória afetiva é algo impressionante, o esquecimento também é um remédio providencial que ameniza algumas vivencias desagradáveis que não gostaríamos de recordar, mas também são exemplos a serem ou não seguidos, afinal nem tudo que vivemos em nossa juventude gostaríamos de ter vivido daquele jeito, pensamos que talvez pudesse ter sido diferente, será? Penso que nascemos e vivemos da maneira como Deus decidiu, nada é por acaso!

O Enigma da Herança Cultural: Além da influência individual, a sociedade e a cultura também exercem influência sobre o indivíduo. A herança cultural é uma extensão da influência póstuma, onde as tradições, os valores e a história perduram mesmo após a morte dos antecessores. Assim, o indivíduo continua a envelhecer, não apenas em anos de vida, mas em termos de conhecimento e sabedoria cultural transmitidos, não na forma de acumulado de experiências, mas da reforma constante tamanha a plasticidade que a vida nos proporciona em oportunidades e escolhas podemos construir, cada um de nós, nossas próprias vidas à nossa maneira.

Enquanto pensava sobre esta necessária vivência, lembrei que da história mítica de Adão e Eva, a infância não é parte de sua narrativa mítica, ou seja, eles não tiveram infância, um foi criado do barro e ela de uma costela dele, surgiram por vontade de Deus que os criou adultos. A infância é considerada fundamental para o desenvolvimento e aprendizado dos seres humanos na realidade, as experiências são necessárias para moldar nosso caráter e personalidade, a infância é a maçã que precisa ser comida todos os dias para adquirirmos conhecimento de como viver neste mundão, ninguém escapa disto, assim seguimos nesta caminhada da infância a velhice.

Vejamos quanto aprendemos com esta narrativa mítica, a maçã representa o ato de desobediência de Eva ao comer o fruto proibido, desencadeando a queda da humanidade do estado de inocência para um estado de consciência do bem e do mal. É um símbolo da desobediência, transgressão e da quebra de regras divinas. Ao comer a maçã, Eva ganhou o conhecimento do bem e do mal, levando-a a uma consciência moral. Representa o desejo humano inato de adquirir conhecimento e compreensão. É vista como um símbolo da maturidade e crescimento, já que comer o fruto proibido resultou em uma compreensão mais profunda da existência e das escolhas morais. É frequentemente associada à tentação, com a serpente persuadindo Eva a desobedecer a Deus e comer o fruto proibido, o que levou à introdução do pecado original na humanidade. Vivemos num mundo paradoxal, nossa sobrevivência depende de nosso aprendizado sobre bem e o mal, precisamos viver coisas boas e ruins, tudo faz parte de um grande processo paradoxal da vida.

O paradoxo de ser mais velho após a morte de meu pai me ofereceu uma oportunidade para repensar minha compreensão do tempo e da existência. A vida e a morte, longevidade e envelhecimento, são conceitos interconectados que desafiam nossas percepções lineares tradicionais. Ao abraçar as complexidades desse paradoxo, somos levados a refletir sobre a natureza fluida da existência e a infinita extensão do impacto humano. Afinal, em um universo de dualidades, o paradoxo é a expressão mais autêntica da nossa busca incessante pela verdade e pelo entendimento, nada é por acaso, precisamos ter apetite para comer uma maçã por dia, filosófica e literalmente, não se trata de desobediência, mas de sobrevivência.

Um mate sempre atrai os amigos, Foucault que ainda não havia experimentado um mate experimentou e em principio estranhou, na segunda vez que sorveu já tinha sua opinião a respeito bebida, pediu mais um, assim se aprochegou, tendo ouvido minha conversa com Nietzsche tomou a palavra complementando o que havíamos falado até ali expondo suas ideias sobre o tema, Foucault conhecido por suas análises sobre poder, conhecimento e história, ofereceu uma perspectiva crítica sobre como a sociedade molda nossa compreensão de conceitos como tempo, vida e morte. 

Sua abordagem arrojada nos convidou a questionar as normas estabelecidas e a olhar para além das percepções convencionais. Ao incorporar a visão de Foucault, pudemos refletir como as influências e legados deixados pelos nossos pais continuam a nos moldar, transcendendo a própria existência deles. Isso nos permite analisar o paradoxo da longevidade póstuma através da lente da influência cultural e social, ampliando nosso entendimento sobre a complexidade do tempo e da herança. Enfim, foi uma ótima conversa hipotética, mas muito elucidadora, terminou a agua quente da térmica, terminou o mate, ficaram apenas as ideias fervilhando na cabeça, os amigos foram embora retornando a seu tempo e aos livros que ficarão aguardando uma próxima conversa numa sessão de mate amargo.