Ah, o tempo - esse misterioso e
incontrolável fluxo que define nossas vidas e, de alguma forma, nos faz sentir
como se estivéssemos em um eterno jogo de esconde-esconde com ele. Às vezes,
nos deparamos com conceitos que desafiam nossa noção habitual de tempo e idade,
nos fazendo arquear as sobrancelhas e questionar a lógica da vida. Um desses
momentos é quando nos damos conta de que, de alguma maneira, estamos "mais
velhos" que nosso pai. Mas espera aí, não é esse o tipo de coisa que
contradiz a ordem natural das coisas?
Num momento descontraído
apreciando o sorver do mate amargo, resolvi jogar uma luz descontraída sobre
esse paradoxo peculiar. Mentalmente resolvi desvendar a teia de percepções e
ideias que nos fazem sentir que, de certa forma, estamos vivendo além do tempo
do meu pai, mesmo após sua partida. Pensei em explorar como a influência eterna
deles nos afeta e como o legado que deixam continua a envelhecer conosco.
Afinal, talvez, em algum lugar entre as linhas do tempo e as lições aprendidas,
possamos encontrar um entendimento inusitado sobre o que significa viver, mesmo
depois da última respiração. Cruzei o portal do tempo e embarquei nessa jornada
filosófica e paradoxal, e quem sabe, poderia encontrar um novo olhar sobre
minha/nossa própria existência.
A vida é uma jornada marcada por
paradoxos intrincados e questões sem resposta definitiva. Um desses paradoxos
se apresentou quando refleti sobre a ideia de ser mais velho que meu progenitor
já falecido, o que a princípio parecia uma contradição lógica, revelou-se uma
oportunidade de explorar os limites do tempo e da continuidade da existência,
hoje tenho os cabelos brancos que meu pai não teve tempo de branquear os seus,
coisa que o tempo em seu jogo de transformações joga sobre todos nós as marcas
de quem viveu bastante e caminhou de mãos dadas com ele.
Convidei Nietzsche para tomar o
mate comigo e refletirmos a respeito do tema, o convidei por ser um dos
pensadores mais "fora da caixa" da filosofia. Esse cara tinha uma
visão sobre o tempo e a existência que era uma verdadeira montanha-russa
intelectual. Nietzsche nos convida a repensar a vida além das regras
convencionais e a abraçar a complexidade do nosso ser. Agora, pensemos nesse
paradoxo de ser "mais velho" que o pai. Nietzsche nos diria para
questionar tudo, inclusive nossa noção tradicional de tempo. Ele nos
encorajaria a olhar para a influência duradoura que nossos pais têm em nós,
mesmo após sua passagem, e ver isso como uma continuação de sua existência. É
como se estivéssemos dançando ao ritmo da música que nossos pais começaram a
tocar, e a festa continua mesmo depois que eles saíram da sala. Vamos explorar
como Nietzsche pode nos ajudar a desconstruir as ideias convencionais de tempo,
envelhecimento e legado, e quem sabe, descobrir uma nova maneira de abraçar o
eterno movimento da vida, mesmo quando parece que a música parou. Afinal, se há
alguém que sabia como fazer uma revolução filosófica, era esse cara de bigode
peculiar! Então, vamos entrar na dança e ver onde ela nos leva.
Entre um mate e outro, numa
pausa Nietzsche sugeriu trazer a metáfora do "martelo" para
adicionar uma camada interessante à nossa reflexão sobre o paradoxo da
longevidade póstuma, falou sobre a necessidade de sermos como um
"martelo" em relação às nossas crenças e ideias. Ele nos convidava a
questionar e desafiar as noções estabelecidas, a fim de criar novos
entendimentos e perspectivas. Assim como um martelo que quebra algo em pedaços
para possibilitar a construção de algo novo, nós, como indivíduos, devemos
questionar as noções tradicionais de tempo e existência.
Nesse contexto, concordei com
Nietzsche, podemos aplicar a metáfora do martelo para quebrar a rigidez da
percepção linear do tempo, ao questionar a noção convencional de "ser mais
velho que o pai", estamos, de certa forma, empunhando o martelo de
Nietzsche para quebrar as limitações que essa ideia aparente impõe. Ao quebrar
essa rigidez, podemos ver a longevidade póstuma não como uma contradição, mas
como uma expansão do conceito de tempo e existência. A influência contínua dos
pais e o legado cultural se tornam os fragmentos que nos permitem construir uma
compreensão mais rica e nuanceada do que significa envelhecer além das
fronteiras convencionais, as vezes é preciso empunhar o "martelo"
filosófico de Nietzsche e, com determinação, quebrar as barreiras que nos
limitam a uma visão unilateral do tempo e da existência e ver que, às vezes, a
chave para a sabedoria está em desafiar nossas ideias preconcebidas e abraçar o
desconhecido com coragem.
O Tempo e Sua Complexidade: O
tempo, entidade abstrata que estrutura nossa realidade, é fonte de inúmeras
indagações filosóficas, em nossa compreensão cotidiana, o tempo flui em uma
direção única, da juventude para a velhice, da concepção à morte. Entretanto,
ao considerar a morte de uma figura paterna, somos compelidos a reavaliar essa
perspectiva linear, é uma sensação estranha que nos retira desta linha até
então aparentemente segura.
O Paradoxo da Longevidade
Póstuma: Ao morrer, um pai deixa um legado duradouro. Se considerarmos a
influência contínua desse legado sobre o filho, é possível argumentar que, em
certo sentido, a presença do pai persiste mesmo após sua morte. A sabedoria
transmitida, os ensinamentos e as lembranças permanecem vivos na mente e no
coração do filho, aprendemos através de nossa vivência a ver como fazer ou não
fazer da vida uma experiência boa ou ruim.
Nessa análise, pude vivenciar um
tempo pós-morte do pai, em que a influência e as lições continuam a moldar minha
jornada. Portanto, o filho se torna "mais velho" na experiência
acumulada após a morte do pai, mesmo que isso contradiga a interpretação linear
convencional da passagem do tempo, a memória afetiva é algo impressionante, o
esquecimento também é um remédio providencial que ameniza algumas vivencias
desagradáveis que não gostaríamos de recordar, mas também são exemplos a serem
ou não seguidos, afinal nem tudo que vivemos em nossa juventude gostaríamos de
ter vivido daquele jeito, pensamos que talvez pudesse ter sido diferente, será?
Penso que nascemos e vivemos da maneira como Deus decidiu, nada é por acaso!
O Enigma da Herança Cultural:
Além da influência individual, a sociedade e a cultura também exercem
influência sobre o indivíduo. A herança cultural é uma extensão da influência
póstuma, onde as tradições, os valores e a história perduram mesmo após a morte
dos antecessores. Assim, o indivíduo continua a envelhecer, não apenas em anos
de vida, mas em termos de conhecimento e sabedoria cultural transmitidos, não
na forma de acumulado de experiências, mas da reforma constante tamanha a
plasticidade que a vida nos proporciona em oportunidades e escolhas podemos
construir, cada um de nós, nossas próprias vidas à nossa maneira.
Enquanto pensava sobre esta
necessária vivência, lembrei que da história mítica de Adão e Eva, a infância
não é parte de sua narrativa mítica, ou seja, eles não tiveram infância, um foi
criado do barro e ela de uma costela dele, surgiram por vontade de Deus que os
criou adultos. A infância é considerada fundamental para o desenvolvimento e
aprendizado dos seres humanos na realidade, as experiências são necessárias
para moldar nosso caráter e personalidade, a infância é a maçã que precisa ser
comida todos os dias para adquirirmos conhecimento de como viver neste mundão,
ninguém escapa disto, assim seguimos nesta caminhada da infância a velhice.
Vejamos quanto aprendemos com
esta narrativa mítica, a maçã representa o ato de desobediência de Eva ao comer
o fruto proibido, desencadeando a queda da humanidade do estado de inocência
para um estado de consciência do bem e do mal. É um símbolo da desobediência,
transgressão e da quebra de regras divinas. Ao comer a maçã, Eva ganhou o
conhecimento do bem e do mal, levando-a a uma consciência moral. Representa o
desejo humano inato de adquirir conhecimento e compreensão. É vista como um
símbolo da maturidade e crescimento, já que comer o fruto proibido resultou em
uma compreensão mais profunda da existência e das escolhas morais. É
frequentemente associada à tentação, com a serpente persuadindo Eva a
desobedecer a Deus e comer o fruto proibido, o que levou à introdução do pecado
original na humanidade. Vivemos num mundo paradoxal, nossa sobrevivência
depende de nosso aprendizado sobre bem e o mal, precisamos viver coisas boas e
ruins, tudo faz parte de um grande processo paradoxal da vida.
O paradoxo de ser mais velho
após a morte de meu pai me ofereceu uma oportunidade para repensar minha
compreensão do tempo e da existência. A vida e a morte, longevidade e
envelhecimento, são conceitos interconectados que desafiam nossas percepções
lineares tradicionais. Ao abraçar as complexidades desse paradoxo, somos
levados a refletir sobre a natureza fluida da existência e a infinita extensão
do impacto humano. Afinal, em um universo de dualidades, o paradoxo é a
expressão mais autêntica da nossa busca incessante pela verdade e pelo
entendimento, nada é por acaso, precisamos ter apetite para comer uma maçã por
dia, filosófica e literalmente, não se trata de desobediência, mas de
sobrevivência.
Um mate sempre atrai os amigos,
Foucault que ainda não havia experimentado um mate experimentou e em principio estranhou, na segunda vez que sorveu já tinha sua opinião a respeito bebida, pediu mais um, assim se aprochegou, tendo
ouvido minha conversa com Nietzsche tomou a palavra complementando o que havíamos
falado até ali expondo suas ideias sobre o tema, Foucault conhecido por suas
análises sobre poder, conhecimento e história, ofereceu uma perspectiva crítica
sobre como a sociedade molda nossa compreensão de conceitos como tempo, vida e
morte.
Sua abordagem arrojada nos convidou a questionar as normas estabelecidas
e a olhar para além das percepções convencionais. Ao incorporar a visão de
Foucault, pudemos refletir como as influências e legados deixados pelos nossos
pais continuam a nos moldar, transcendendo a própria existência deles. Isso nos
permite analisar o paradoxo da longevidade póstuma através da lente da
influência cultural e social, ampliando nosso entendimento sobre a complexidade
do tempo e da herança. Enfim, foi uma ótima conversa hipotética, mas muito
elucidadora, terminou a agua quente da térmica, terminou o mate, ficaram apenas
as ideias fervilhando na cabeça, os amigos foram embora retornando a seu tempo
e aos livros que ficarão aguardando uma próxima conversa numa sessão de mate
amargo.