O que significa ter um destino humaníssimo? A expressão, envolta em certa nobreza linguística, evoca uma reflexão sobre a essência do humano e os caminhos que a vida, ou o próprio ser, traça para si. É como se estivéssemos a perguntar: o que há de mais humano em nosso destino? E mais ainda, quem é o arquiteto desse destino: nós, a sociedade, ou algo transcendente?
A busca pelo que nos faz humanos
O conceito de “humaníssimo” carrega a ideia de uma
humanidade elevada, um ideal ético e existencial que transcende o simples ato
de viver. Não basta existir; é preciso realizar aquilo que nos torna únicos,
como a consciência reflexiva, a capacidade de criar, de amar, de sofrer e de
transformar o mundo. No entanto, essa busca pelo “humaníssimo” é muitas vezes
atravessada por desvios, tropeços e incertezas.
Imaginemos uma cena cotidiana: alguém decide
abandonar um emprego seguro para se dedicar a uma paixão, como a pintura ou a
música. Esse ato, tão carregado de incertezas, revela uma tentativa de honrar o
que há de mais humano no indivíduo – a capacidade de criar significado além da
sobrevivência. O destino humaníssimo, nesse caso, não é uma trilha pavimentada,
mas uma vereda traçada pela coragem de ser autêntico.
Liberdade ou fatalidade?
Se o destino existe, ele é imposto ou construído?
Os estoicos acreditavam que o destino é uma força inexorável, mas que podemos,
por meio da razão, aprender a aceitá-lo. Já Sartre diria que o destino não
existe a priori – somos condenados a ser livres, e nossa liberdade nos obriga a
inventar nosso caminho.
Nos dilemas cotidianos, isso se manifesta de
maneira quase trivial. Quando decidimos perdoar alguém que nos feriu, por
exemplo, estamos exercendo a liberdade de ressignificar o passado, em vez de
nos agarrarmos a uma narrativa predeterminada. O perdão não apaga o que
aconteceu, mas transforma o rumo da nossa história.
O destino como projeto coletivo
Há também quem veja o destino não como algo
individual, mas como um projeto coletivo. O filósofo brasileiro Milton Santos,
ao falar sobre o papel do humano no mundo globalizado, nos lembra que o futuro
da humanidade depende de ações que unam ética e solidariedade. Nesse sentido,
um destino humaníssimo só é possível se reconhecermos que o "eu" só
existe no “nós”.
Pensemos na cena de um bairro onde vizinhos se unem
para transformar um terreno baldio em uma horta comunitária. Ali, o destino
humano se manifesta não como um ideal solitário, mas como uma construção
compartilhada, em que cada gesto individual contribui para um bem maior.
O inescapável mistério
Por fim, há algo de misterioso em todo destino,
algo que escapa à compreensão humana. Mesmo que sejamos os autores de nossas
escolhas, nem sempre temos controle sobre os desdobramentos. Talvez o destino
humaníssimo resida justamente na aceitação desse mistério, sem que isso nos
paralise.
Como bem disse Guimarães Rosa, em "Grande
Sertão: Veredas", “viver é muito perigoso.” Mas é nesse perigo, nessa
aventura constante, que encontramos a grandeza de ser humano – não pelo que
sabemos, mas pelo que continuamos a buscar.
O destino humaníssimo não é uma linha reta ou um
caminho predeterminado. É uma construção contínua, alimentada por nossas
escolhas, nossos erros, nossas relações e, acima de tudo, pela busca incessante
por significado. Seja pela liberdade de Sartre, pela resignação dos estoicos ou
pela visão coletiva de Milton Santos, o destino humano é, antes de tudo, um
convite a viver com intensidade e autenticidade.
E talvez, no final das contas, o destino
humaníssimo seja aquele em que, ao olharmos para trás, possamos dizer que
vivemos plenamente o que nos torna humanos: a coragem de sentir, de criar e de
transformar.