Pesquisar este blog

segunda-feira, 23 de junho de 2025

Gradualidade do Conhecimento

No mundo real, nada chega de uma vez só. Nem o saber. Nem a confiança. Nem o entendimento. Quando tentamos aprender algo — seja a tocar violão, entender filosofia ou conviver com alguém — a experiência é sempre feita de camadas. Uma após a outra. Como quem sobe uma escada em que cada degrau parece invisível até pisarmos nele.

Veja o exemplo de uma criança aprendendo a ler. No começo, são só riscos e rabiscos sem sentido. Depois vêm as letras soltas. Mais adiante, sílabas. E então palavras. Um dia — e só depois de um tempo — surge o encantamento da frase inteira: "O sol nasceu." Para um adulto, isso parece óbvio. Para quem aprende, é uma revolução.

A gradualidade também aparece nas relações humanas. Quem nunca se precipitou num julgamento — achando entender alguém já na primeira impressão — e depois percebeu, aos poucos, que havia mais camadas, mais histórias, mais dores e alegrias escondidas? Conhecer uma pessoa também exige tempo, abertura, espera. É uma construção lenta, como a maturação de um vinho.

Na ciência, idem. A física quântica não brotou da cabeça de ninguém do nada. Veio depois de Newton, depois de Maxwell, depois de Einstein, depois de Bohr... cada um colocando uma peça no quebra-cabeça. O conhecimento se acumula como camadas geológicas, sedimentando-se aos poucos, com paciência.

O filósofo francês Gaston Bachelard escreveu que o conhecimento verdadeiro é sempre construído contra o conhecimento anterior. Ou seja: para saber algo novo, precisamos antes superar uma visão velha, acostumada, confortável. E isso dá trabalho. É um processo. Não acontece de uma hora para outra.

Talvez seja por isso que as pessoas mais sábias são também as mais humildes. Porque sabem o quanto custou cada grama de saber. Sabem que a pressa em "saber tudo logo" é ilusão. Quem sabe muito não se exibe; guarda silêncio respeitoso diante do imenso campo do que ainda não sabe.

No cotidiano, esse ritmo lento se revela quando tentamos aprender a cozinhar, a dirigir, a amar alguém direito. Tudo tem seu tempo. Não adianta plantar e exigir o fruto no dia seguinte.

Talvez o segredo do conhecimento esteja justamente aí: na aceitação de sua gradualidade. Como quem lê um livro página por página, sem querer espiar o final antes da hora.

Afinal, como disse o velho Heráclito:

"O tempo é o pai da verdade."

Sem tempo, não há verdade possível. Nem aprendizado. Nem sabedoria.


Nenhum comentário:

Postar um comentário