No mundo real, nada chega de uma vez só. Nem o saber. Nem a confiança. Nem o entendimento. Quando tentamos aprender algo — seja a tocar violão, entender filosofia ou conviver com alguém — a experiência é sempre feita de camadas. Uma após a outra. Como quem sobe uma escada em que cada degrau parece invisível até pisarmos nele.
Veja
o exemplo de uma criança aprendendo a ler. No começo, são só riscos e rabiscos
sem sentido. Depois vêm as letras soltas. Mais adiante, sílabas. E então
palavras. Um dia — e só depois de um tempo — surge o encantamento da frase
inteira: "O sol nasceu." Para um adulto, isso parece óbvio. Para quem
aprende, é uma revolução.
A
gradualidade também aparece nas relações humanas. Quem nunca se precipitou num
julgamento — achando entender alguém já na primeira impressão — e depois
percebeu, aos poucos, que havia mais camadas, mais histórias, mais dores e
alegrias escondidas? Conhecer uma pessoa também exige tempo, abertura, espera.
É uma construção lenta, como a maturação de um vinho.
Na
ciência, idem. A física quântica não brotou da cabeça de ninguém do nada. Veio
depois de Newton, depois de Maxwell, depois de Einstein,
depois de Bohr... cada um colocando uma peça no quebra-cabeça. O
conhecimento se acumula como camadas geológicas, sedimentando-se aos poucos,
com paciência.
O
filósofo francês Gaston Bachelard escreveu que o conhecimento verdadeiro
é sempre construído contra o conhecimento anterior. Ou seja: para saber algo
novo, precisamos antes superar uma visão velha, acostumada, confortável. E isso
dá trabalho. É um processo. Não acontece de uma hora para outra.
Talvez
seja por isso que as pessoas mais sábias são também as mais humildes. Porque
sabem o quanto custou cada grama de saber. Sabem que a pressa em "saber
tudo logo" é ilusão. Quem sabe muito não se exibe; guarda silêncio
respeitoso diante do imenso campo do que ainda não sabe.
No
cotidiano, esse ritmo lento se revela quando tentamos aprender a cozinhar, a
dirigir, a amar alguém direito. Tudo tem seu tempo. Não adianta plantar e
exigir o fruto no dia seguinte.
Talvez
o segredo do conhecimento esteja justamente aí: na aceitação de sua
gradualidade. Como quem lê um livro página por página, sem querer espiar o
final antes da hora.
Afinal,
como disse o velho Heráclito:
"O
tempo é o pai da verdade."
Sem
tempo, não há verdade possível. Nem aprendizado. Nem sabedoria.
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