Quando a vida molda o pensamento: Marx, Engels e a consciência que vem do chão
A
gente costuma pensar que nossas ideias vêm da nossa cabeça. Que somos livres
para acreditar no que quisermos, pensar o que quisermos, votar em quem quisermos,
e ponto. Mas será que é bem assim? Será que o que pensamos sobre o mundo —
sobre política, trabalho, justiça, sucesso — é tão livre quanto imaginamos?
Marx
e Engels diriam que não. Para eles, a nossa consciência — aquilo que achamos
que é certo, errado, justo ou natural — nasce da vida concreta que levamos.
Ou seja: não é a cabeça que molda o mundo, é o mundo que molda a cabeça.
E essa virada muda tudo.
O
ser social determina a consciência
Imagine
duas pessoas: uma que vive em um bairro periférico e acorda às 5 da manhã para
pegar três ônibus até o trabalho, e outra que vive num condomínio fechado, com
carro, segurança e tempo livre. Agora pense: essas duas pessoas vão enxergar o
mundo da mesma forma? Vão entender o que é esforço, mérito, segurança, lazer ou
justiça do mesmo jeito?
Para
Marx e Engels, a resposta é clara: nossas condições materiais — onde
nascemos, o que fazemos, quanto temos, como vivemos — moldam diretamente a
maneira como vemos o mundo. É isso que eles chamam de o ser social
determina a consciência.
Não
somos apenas "indivíduos pensantes", como dizia a filosofia idealista
da época. Somos sujeitos inseridos num mundo de relações — especialmente
relações de trabalho — e nossa visão de mundo nasce dessa base.
A
ideologia como véu
Mas
tem mais. Marx e Engels também apontam que a consciência que temos muitas
vezes é distorcida. Isso acontece porque o sistema em que vivemos (o
capitalismo) produz ideias que ajudam a manter tudo como está. É a
ideologia.
Exemplo:
quando alguém diz que "quem é pobre é porque não se esforça", está
reproduzindo uma ideia que esconde a desigualdade estrutural. Ou quando achamos
que "empreender é para todos", como se todos tivessem o mesmo ponto
de partida.
Essas
ideias não são neutras — elas servem para legitimar o que está posto. E muitas
vezes a gente acredita nelas sem nem perceber. É o que Marx chamava de falsa
consciência: uma visão do mundo que parece natural, mas na verdade é
construída para manter a ordem social.
Consciência
de classe: o despertar
A
crítica de Marx e Engels não é só uma denúncia. Ela também é um chamado. Quando
o trabalhador começa a entender que sua condição não é culpa sua, mas parte de
um sistema desigual, ele começa a desenvolver consciência de classe.
Esse
despertar é perigoso para quem está no topo, porque rompe o ciclo da alienação.
A consciência deixa de ser apenas um reflexo da vida material e passa a ser uma
ferramenta de transformação. Como quem acorda de um sonho — e vê que é
possível sonhar diferente, acordado.
Em
outras palavras...
A
consciência, para Marx e Engels, não é um dom divino nem um pensamento livre no
ar. É uma construção social, moldada pelas condições materiais. Nossos
pensamentos, crenças e valores nascem da vida que levamos, da classe que
ocupamos, da posição que temos dentro das relações de produção.
A
verdadeira liberdade começa quando a gente entende isso — e pode, enfim,
questionar o que parecia natural.
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