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segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Ser Dogmático

Como as pessoas apegadas se tornam inflexíveis, as discussões tornam-se demasiadamente tóxicas e tende a afastar qualquer um que pense diferente, estes são os dogmáticos. Ser dogmático é ter uma visão rígida e inquestionável sobre determinado assunto. Essa postura pode ser vista de várias maneiras no cotidiano, desde debates políticos até discussões simples entre amigos. Vamos explorar algumas dessas situações para entender melhor como o dogmatismo pode se manifestar e impactar nossas vidas diárias.

Na Política

Imagine um jantar em família onde o assunto "política" surge na mesa. João, um defensor fervoroso de um partido específico, começa a falar sobre os benefícios que esse partido trouxe para o país. Quando alguém tenta apresentar uma perspectiva diferente ou uma crítica construtiva, João imediatamente rejeita a ideia, argumentando que qualquer outra visão está completamente errada. Essa atitude dogmática impede um diálogo saudável e construtivo, onde diferentes opiniões poderiam ser ouvidas e discutidas de maneira respeitosa.

No Trabalho

No ambiente de trabalho, Maria, uma gerente de projetos, acredita firmemente que sua abordagem de gerenciamento é a única que funciona. Quando um colega sugere uma metodologia alternativa que poderia melhorar a eficiência da equipe, Maria descarta a ideia sem considerá-la. Essa postura dogmática pode limitar a inovação e a colaboração no ambiente profissional, pois os colegas podem se sentir desencorajados a compartilhar novas ideias ou pontos de vista.

Na Educação

Em sala de aula, um professor pode ser dogmático ao insistir que apenas um método de ensino é eficaz, ignorando outras abordagens pedagógicas que poderiam beneficiar os alunos. Por exemplo, se o professor acredita que a memorização é a melhor forma de aprendizado e desconsidera métodos mais interativos e práticos, os estudantes podem acabar desmotivados e com um aprendizado menos eficaz.

Nas Redes Sociais

Nas redes sociais, o dogmatismo se torna ainda mais evidente. Imagine uma discussão sobre um tema controverso, como mudanças climáticas ou vacinação. Pessoas com opiniões extremas e inabaláveis frequentemente entram em debates acalorados, desqualificando qualquer argumento contrário sem considerar evidências ou perspectivas diferentes. Essa postura não só polariza as discussões, mas também dificulta o avanço em direção a soluções colaborativas e informadas.

Na Amizade

Até mesmo entre amigos, o dogmatismo pode surgir. Pedro e Ana são amigos de longa data, mas têm opiniões diferentes sobre um filme popular. Pedro, sendo dogmático, insiste que sua interpretação do filme é a única válida e ridiculariza a visão de Ana. Isso pode criar uma tensão desnecessária na amizade, impedindo que ambos desfrutem de uma troca saudável e enriquecedora de ideias.

Ser dogmático pode criar barreiras nas relações interpessoais e limitar o crescimento pessoal e coletivo. O diálogo aberto e o respeito às diferentes perspectivas são fundamentais para um convívio harmonioso e para o desenvolvimento de soluções inovadoras em diversos aspectos da vida. Ao reconhecer o valor das opiniões alheias e estar aberto a novas ideias, podemos construir uma sociedade mais inclusiva e colaborativa. 

Acordar do Sonho

Acordar de um sonho é uma metáfora poderosa que atravessa a nossa existência. Quem nunca, ao despertar, carregou por alguns segundos a sensação de que o sonho ainda era real? Essa mistura de confusão e clareza revela algo interessante: o quanto, muitas vezes, vivemos presos a um "sonho" que parece ser realidade, mas que, quando olhamos com mais atenção, se desfaz. E isso vai muito além do sono.

No dia a dia, somos constantemente levados por sonhos que construímos ao longo da vida — expectativas sobre quem deveríamos ser, o que devemos conquistar, as pessoas com quem nos relacionamos. Essas ideias são como camadas de um véu que cobre a realidade e, às vezes, precisamos "acordar" para perceber que estamos vivendo uma ilusão.

O filósofo indiano N. Sri Ram, em suas reflexões sobre a busca pela verdade, sugere que esse despertar é essencial para que possamos enxergar a realidade como ela é. Ele afirma que a maioria das pessoas vive em um estado de semi-consciência, agarradas a noções pré-estabelecidas que limitam o potencial de viver plenamente. Para ele, a verdadeira liberdade começa quando conseguimos nos libertar dessas ilusões e reconhecemos a realidade mais profunda e sutil da vida. Em seu livro O Homem, Deus e o Universo, ele explora essa jornada de despertar da ilusão, sugerindo que só quando rompemos com o véu do ego e da mente condicionada é que podemos ter um vislumbre da verdade.

No cotidiano, esse "despertar" pode acontecer em momentos simples, como quando enfrentamos uma crise pessoal. Perder um emprego, por exemplo, pode ser o choque necessário para percebermos que estávamos investindo nossa energia em algo que não trazia satisfação real. Ou, quem sabe, ao terminar um relacionamento, temos a oportunidade de enxergar a nós mesmos sem a imagem que o outro projetava. São nesses momentos que a vida nos convida a despertar.

Acordar de um sonho, no sentido filosófico, é entender que vivemos imersos em narrativas que criamos ou que nos foram impostas pela sociedade. E ao despertar, vemos que essas histórias não são a verdade última. O processo é, muitas vezes, doloroso, pois abandonar o conforto de uma ilusão pode ser assustador. Contudo, como Sri Ram aponta, só ao atravessar essa dor podemos tocar o verdadeiro significado de liberdade e consciência.

Essa reflexão filosófica nos lembra que, muitas vezes, a vida nos dá pequenos empurrões para acordarmos de nossos sonhos — sejam eles sobre quem achamos que somos ou sobre o que acreditamos que o mundo deve ser. E quando despertamos, um novo horizonte se abre, onde podemos ver as coisas como realmente são, livres dos véus que nos cegavam.


domingo, 29 de setembro de 2024

Intramuros

Uma palavra que, ao ser dita, evoca a ideia de muros que cercam, protegem e, ao mesmo tempo, isolam. Ao refletir sobre ela, penso imediatamente na vida que construímos para nós mesmos, dentro de nossas próprias paredes mentais e emocionais, delimitando até onde permitimos que os outros nos conheçam ou onde ousamos nos aventurar no desconhecido. No nosso dia a dia, estamos o tempo todo "intramuros" – nas rotinas, nas redes sociais, nas bolhas de pensamentos e crenças. Esses muros, no entanto, podem ser tanto fortalezas de proteção quanto prisões invisíveis.

Você já reparou como gostamos de criar nossas próprias fronteiras? Sejam elas físicas, como a organização da casa, ou sociais, nas amizades e círculos que cultivamos. Fazemos isso porque o familiar nos oferece segurança. Sentimo-nos no controle quando conhecemos o terreno em que pisamos. Mas será que essas paredes que construímos, de certa forma, também não nos limitam?

Maurice Halbwachs, o sociólogo que estudou a memória coletiva, poderia dizer que os muros que erguemos têm a ver com a forma como preservamos nossas lembranças e histórias. Ele argumentava que a memória não é individual, mas coletiva, sendo influenciada pelo grupo ao qual pertencemos. Assim, ao construirmos nossos muros, estamos também definindo os limites de quem somos e do que lembramos, moldados pelas influências daqueles ao nosso redor.

Intramuros, na prática, pode ser aquela sensação de conforto ao seguir as tradições familiares, por exemplo. É o jantar em família aos domingos, onde repetimos conversas e rotinas já estabelecidas, reforçando o que é conhecido e compartilhado. Mas ao mesmo tempo, essa prática também nos prende em padrões que evitam o novo, impedindo que experimentemos algo fora da zona de conforto.

Há também a dimensão mais literal de intramuros. Basta pensar nas cidades muradas, como a histórica Intramuros, em Manila, nas Filipinas. Criadas para proteger seus habitantes de invasores, essas cidades antigas eram o perfeito exemplo de como a segurança pode também restringir a expansão. Dentro dos muros, a vida seguia um ritmo mais lento, mais controlado. Fora deles, o caos e a possibilidade da aventura.

Na nossa vida cotidiana, muitas vezes ficamos "intramuros" por medo do desconhecido, e não é difícil identificar exemplos. O trabalho que conhecemos, mesmo que seja frustrante, é mais seguro que tentar algo novo. A relação estável, ainda que desgastada, oferece mais conforto que a solidão ou a incerteza de um novo começo. Talvez, como Halbwachs sugeriria, seja o nosso ambiente e nossas interações que nos empurram a viver entre esses muros, de forma que nossa identidade está entrelaçada ao que construímos junto com os outros. O grande desafio, então, seria entender que, embora intramuros ofereça segurança, são as aberturas nesses muros que nos permitem crescer e evoluir.

Talvez o segredo seja encontrar um equilíbrio: reconhecer que precisamos de muros para nos proteger, mas também que devemos deixá-los permeáveis, permitindo que o novo e o desconhecido entrem e nos transformem.


sábado, 28 de setembro de 2024

Pequenos Detalhes

Mandala a óleo

Há algo de mágico nos detalhes que a vida insiste em nos oferecer, quase como se estivessem à espera de serem notados. E, no entanto, na pressa cotidiana, esses pequenos fragmentos passam despercebidos — um sorriso trocado em silêncio, o calor suave de um raio de sol tocando a pele, o cheiro familiar de café numa manhã qualquer. Em um mundo onde o grande e o grandioso costumam roubar a cena, será que estamos esquecendo de enxergar o que realmente importa? Este ensaio é um convite para olhar mais de perto, para redescobrir a poesia que habita nas minúcias que compõem o nosso dia a dia.

Lembro-me de uma manhã comum, dessas que começam como qualquer outra. O café estava pronto, e eu me preparava para o dia. Em um instante, observei o vapor da xícara subir e dissolver-se no ar. Foi uma cena rápida, nada extraordinário, mas naquele momento algo me chamou a atenção. A delicadeza do vapor, dançando antes de desaparecer, parecia carregar uma espécie de sabedoria silenciosa, um lembrete de como tudo é transitório e, ao mesmo tempo, belo. Esse pequeno detalhe, um fenômeno banal que ocorre todos os dias, foi o que me trouxe a uma reflexão mais ampla sobre a efemeridade da vida.

Gaston Bachelard, em sua obra A Poética do Espaço, fala sobre o poder dos detalhes e das pequenas intimidades dos ambientes em nossa percepção. Ele argumenta que não são os grandes acontecimentos que nos definem ou que marcam o espaço que habitamos, mas sim os pequenos elementos cotidianos. Um espaço doméstico, por exemplo, ganha vida pelos detalhes que ele contém: uma poltrona envelhecida, o som da água escorrendo em um quarto ao lado, o ranger da porta de madeira quando alguém a abre lentamente. Para Bachelard, é na intimidade desses pequenos gestos e objetos que encontramos uma espécie de poesia existencial.

Quando penso na vida como um todo, vejo como frequentemente perdemos esses pequenos momentos. Estamos sempre esperando os grandes acontecimentos, aqueles que julgamos importantes: uma promoção no trabalho, o nascimento de um filho, uma viagem dos sonhos. Claro, esses eventos têm seu lugar, mas o que acontece nos intervalos? Esses momentos silenciosos, aparentemente sem significado, são os que, no fim das contas, fazem a diferença. É como o intervalo entre as notas de uma melodia — sem eles, a música não teria ritmo ou harmonia.

No cotidiano, os detalhes funcionam como chaves que abrem portas para emoções e memórias. Quem nunca se viu transportado para a infância ao sentir o cheiro de uma comida específica? Ou ao passar por uma rua familiar que não era visitada há muito tempo? São fragmentos do passado que ressurgem inesperadamente e nos fazem recordar algo que nem sabíamos que tínhamos esquecido. Pequenos detalhes, pequenas pontes entre o presente e o que já fomos.

Mas há uma ironia aqui. Vivemos em uma era de distrações. Com a constante enxurrada de informações e estímulos que recebemos, parece que os pequenos detalhes estão se perdendo na névoa. O filósofo Byung-Chul Han, em seu livro A Sociedade do Cansaço, fala sobre como a aceleração da vida moderna nos impede de prestar atenção a esses detalhes. Estamos sempre sobrecarregados com tarefas, pressões e informações, tornando-nos incapazes de ver o que é simples, de saborear os momentos com calma. Han sugere que essa aceleração acaba por nos privar da profundidade da experiência, pois, na ânsia de fazer mais e mais, deixamos de notar o que está bem diante de nós.

Talvez seja por isso que a natureza continua a nos fascinar. A contemplação de uma árvore, de uma flor ou do mar nos convida a uma pausa, a uma conexão com o presente. A árvore não se apressa, ela apenas cresce, e é justamente no seu ritmo calmo que podemos perceber suas nuances: as folhas balançando ao vento, a sombra que ela projeta, as marcas em seu tronco. Esses pequenos detalhes, que a natureza nos oferece gratuitamente, nos ensinam a arte da presença, algo que, em meio à agitação da vida moderna, estamos sempre esquecendo.

No fim, é nos pequenos detalhes que a vida acontece. Quando olhamos para trás, percebemos que não são os grandes eventos que definem quem somos, mas sim as pequenas interações, as sutilezas, os momentos que pareciam insignificantes na hora, mas que, em retrospecto, ganham um peso surpreendente. Bachelard e Han, cada um à sua maneira, nos convidam a desacelerar, a prestar mais atenção, a ver com olhos novos o que já está diante de nós.

Então, quando sentir o cheiro do café subindo pela cozinha, ou ouvir o som da chuva caindo no telhado, permita-se um momento de contemplação. Esses detalhes, por menores que sejam, têm muito a dizer sobre a vida e sobre o que realmente importa. 

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Tolstói e o Suicídio

Setembro chegou e está na finaleira, e com ele, o Setembro Amarelo, uma campanha que nos lembra da importância de falar sobre um tema muitas vezes silenciado: o suicídio. É curioso como algo tão sério e presente na vida de muitas pessoas ainda é envolto em tanto tabu, como se a simples menção da palavra fosse um risco. Mas a verdade é que conversar sobre isso é um ato de cuidado e acolhimento. Suicídio não é um sinal de fraqueza, nem de egoísmo; é um grito de socorro, muitas vezes invisível, que pede por escuta, compreensão e, acima de tudo, empatia. Vamos falar sobre isso? Então, vou trazer um personagem muito conhecido por abordar o tema Lev Tolstói.

Lev Tolstói, conhecido por obras monumentais como Guerra e Paz e Anna Karenina, abordou profundamente a questão do suicídio em seus escritos e reflexões pessoais. O tema, para ele, não era meramente filosófico ou teórico; tinha uma relevância existencial, nascida de suas próprias crises espirituais e questionamentos sobre o sentido da vida.

A Crise Espiritual de Tolstói

Tolstói passou por uma crise existencial severa na metade de sua vida, que ele descreve em detalhes em sua obra Confissão (Ispoved', 1882). Aos cinquenta anos, ele se encontrava no auge de sua fama literária, cercado por uma família amorosa e um vasto círculo de admiradores. No entanto, sentia-se vazio e angustiado. A questão do suicídio surgiu para Tolstói como uma saída lógica para a falta de sentido que ele percebia na vida. Ele conta que se via frequentemente considerando métodos para acabar com sua vida, como o enforcamento ou o disparo de uma arma de fogo. A vida, para ele, parecia desprovida de propósito.

Essa crise de sentido se alicerçava em uma visão mecanicista do universo, influenciada pela ciência e pela racionalidade que dominava o século XIX. A ideia de que tudo é governado por leis impessoais e inevitáveis parecia reduzir a vida humana a algo fútil. Para Tolstói, a morte se apresentava como uma sombra que eclipsava qualquer significado que ele pudesse extrair das realizações terrenas, do prazer ou da família.

A Busca pelo Sentido e o Reencontro com a Fé

No auge dessa crise, Tolstói começou a explorar o cristianismo, buscando nele respostas que a razão e a ciência não lhe davam. A reflexão sobre o suicídio levou-o a uma investigação mais ampla sobre a condição humana e o propósito da existência. Ele concluiu que, sem fé, a vida era de fato insuportável, mas que com a fé, a vida ganhava um novo sentido.

Tolstói não encontrou uma resposta simples ou confortável. Pelo contrário, ele chegou a acreditar que a sociedade estava fundamentalmente corrompida, afastada dos ensinamentos genuínos de Cristo. Ele abraçou uma forma de cristianismo radical, que rejeitava a propriedade privada, a violência, e os confortos materiais. Para ele, a vida deveria ser vivida de acordo com os preceitos da simplicidade, do trabalho honesto e do amor ao próximo.

O Suicídio como Reflexo de uma Sociedade Desconectada

Ao abordar o tema do suicídio, Tolstói não via a questão apenas como um problema individual, mas como um sintoma de uma sociedade doente, desconectada de valores espirituais profundos. Para ele, o suicídio muitas vezes era o resultado da falta de propósito e de conexão com algo maior do que o ego humano. O colapso moral da sociedade – com sua ênfase no materialismo, na competição, e na busca incessante por status – empurrava as pessoas para um abismo existencial.

Tolstói criticava a elite russa, e por extensão, a sociedade europeia como um todo, por terem se afastado dos valores simples e autênticos da vida. O suicídio, segundo ele, era um eco dessa desconexão, um grito silencioso contra a falta de sentido que permeava as vidas "bem-sucedidas" de sua época.

Reflexão Sobre o Suicídio no Cotidiano

Se trouxermos essa reflexão para o cotidiano, notamos que muitos dos dilemas que Tolstói enfrentava continuam presentes. A pressão por sucesso, a alienação gerada por um estilo de vida centrado no consumo, e a falta de conexões humanas significativas muitas vezes levam as pessoas a um estado de desespero silencioso. Tolstói via o suicídio como uma resposta radical a esse vazio, mas acreditava que a verdadeira solução estava em uma mudança de perspectiva – na reconexão com a espiritualidade e na busca de um propósito que transcenda as limitações do ego.

Nos dias de hoje, a questão do suicídio ainda assombra muitos, e a sociedade moderna muitas vezes oferece soluções paliativas – desde entretenimento até medicações – sem tocar nas raízes profundas da alienação. A jornada de Tolstói em busca de sentido, seu reencontro com a fé e sua crítica à sociedade de seu tempo oferecem um ponto de reflexão valioso para qualquer um que se veja confrontado com a pergunta: "Por que continuar vivendo?"

Tolstói, no fim, não escolheu o suicídio. Ele escolheu a vida – mas uma vida transformada, uma vida que buscava transcender os valores superficiais e encontrar algo de eterno. Ele nos deixa a lição de que a questão do suicídio não é apenas sobre a morte, mas sobre como escolhemos viver e o que consideramos importante.

Em suas palavras, ele nos convida a refletir sobre como podemos nos reconectar com aquilo que dá significado à vida, talvez encontrando na simplicidade e na espiritualidade a resposta para o vazio existencial que tantos enfrentam em silêncio. Para mim que sou espirita e acredito na doutrina, procuro encorajar as pessoas a lutarem pela vida, a vida não cessa com o suicídio, apenas o corpo físico morre, o suicídio só aumenta nosso sofrimento, espíritos imortais que somos precisamos acreditar na vida e sempre seguir em frente lutando junto com ela por momentos melhores, eles estão lá é só seguir em frente. Força e Fé meus irmãos! 

Criaturas Singulares

Há algo fascinante em sermos criaturas singulares, únicas no emaranhado do tempo e do espaço. Todos caminhamos pelas mesmas ruas, respiramos o mesmo ar, vemos o sol nascer e se pôr; porém, o que fazemos disso? Cada um de nós processa esses momentos de maneira única. A singularidade está em como interpretamos o mundo e nos moldamos a partir dele, um contraste entre a massa de eventos comuns e a resposta particular que damos a eles.

Imagine uma manhã comum. O despertador toca, o café é feito, a rotina começa. Para muitos, tudo segue o mesmo ritmo de sempre, com suas previsibilidades. No entanto, mesmo nesse ciclo aparentemente banal, há espaço para nossa marca pessoal. Talvez alguém pause por um segundo os pensamentos para observar o jogo de luzes na xicara de café, nas folhas das árvores, ou outro note um detalhe curioso na conversa com um estranho. E assim, o ordinário se torna extraordinário, porque é através do nosso olhar que o mundo ganha forma.

É aqui que entra a visão budista, trazendo o comentário de Thich Nhat Hanh, mestre vietnamita e filósofo da plena atenção. Ele nos lembra que a singularidade de cada ser não está nas diferenças gritantes ou nas conquistas marcantes, mas na capacidade de estarmos presentes. Ao praticar o "mindfulness", a atenção plena, passamos a perceber que a singularidade não é uma questão de sermos "melhores" ou "mais especiais" que os outros, mas de estarmos profundamente conectados com o momento, de vivermos com autenticidade, respeitando o que somos e o que o mundo nos oferece a cada instante.

Thich Nhat Hanh fala sobre como cada ação, por menor que pareça, pode ser feita com total presença e autenticidade. Para ele, lavar louça não é apenas uma tarefa doméstica; é uma oportunidade para mergulhar na experiência do presente. “Lavar a louça para lavar a louça”, diz ele, e não para terminar rápido e fazer outra coisa. Essa é uma expressão de singularidade: dar atenção plena ao que estamos fazendo, de forma que isso reflita quem somos no mais íntimo.

Link Mantras para Meditação:

https://www.youtube.com/watch?v=HQSPVVFpSK0&t=2758s

Voltando ao cotidiano, pense nas interações que temos ao longo do dia. O modo como alguém segura a porta para outra pessoa, o jeito único de dar um bom dia, ou como enfrentamos um obstáculo. Esses pequenos gestos são expressões de nossa singularidade, e talvez não os valorizamos o suficiente. Estamos tão acostumados com o movimento acelerado da vida que não percebemos que são essas sutilezas que fazem com que nossa caminhada se diferencie das demais.

Para o budismo, todos somos interconectados, mas essa rede não nega nossa individualidade. Pelo contrário, ela realça que, mesmo sendo parte de um todo, temos um papel singular a desempenhar. Nossas ações reverberam e, em certo sentido, afetam o mundo ao redor. Cada pensamento, palavra e ação deixa um eco, uma marca no universo, moldando a realidade e nos moldando em retorno.

Em última análise, ser uma criatura singular não significa ser uma ilha isolada. Significa estar ciente de que a nossa singularidade está nas pequenas coisas – no modo como percebemos o mundo, como respondemos aos desafios e como nos conectamos aos outros. O que nos torna únicos não é a grandiosidade das nossas realizações, mas a sutileza das nossas vivências diárias, a maneira como encontramos beleza nas rotinas e como imprimimos nossa presença no mundo ao nosso redor.

Como diria Thich Nhat Hanh, “Você já é uma maravilha, só precisa ser você mesmo, totalmente presente em cada respiração e passo que dá.” Talvez, ao compreendermos isso, possamos encontrar paz em nossa singularidade e permitir que ela floresça com suavidade, em harmonia com o todo.

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Dilemas de Lealdade

Estava lendo o livro Justiça, do Michael Sandel, quando me peguei pensando em uma daquelas questões que a gente acaba enfrentando na vida, mesmo sem querer. No livro, Sandel faz várias perguntas que mexem com nossa noção de moralidade, e uma delas é sobre a lealdade. Fiquei com isso na cabeça: será que ser leal é sempre uma virtude, ou tem momentos em que essa lealdade pode nos colocar em situações complicadas, até contra nossos próprios princípios? Foi aí que me bateu a ideia de explorar os dilemas de lealdade, essas encruzilhadas da vida onde ficamos entre o dever com os outros e a responsabilidade com nós mesmos. Afinal, como saber se estamos sendo justos ou apenas seguindo cegamente uma obrigação?

A lealdade é uma dessas virtudes que carregam um peso quase mítico. Pode ser ao time de futebol, a uma amizade de infância ou à empresa onde você trabalha há anos. Mas e quando a lealdade, aquela que deveria ser uma qualidade sólida e inquestionável, começa a gerar dilemas? Sabe aquele momento em que a vida te empurra para uma encruzilhada, e você precisa escolher entre manter-se leal a algo ou alguém, ou ser leal a si mesmo? Esses dilemas de lealdade não são incomuns, mas são sempre desconfortáveis.

Imagine o seguinte cenário: um amigo seu, de longa data, começa a se comportar de maneira tóxica. Ele está sempre reclamando, se afundando em negatividade e, em vez de ouvir conselhos, afasta quem tenta ajudar. Você, como bom amigo, tenta ser leal. Mas até quando? Até que ponto o compromisso de ser leal justifica aceitar comportamentos que fazem mal à sua própria saúde emocional? Ficar ao lado de alguém em todas as situações, até as mais destrutivas, é de fato lealdade ou uma forma de autossabotagem? Nem sempre estamos dispostos a suportar a conversa negativa dos depressivos crônicos.

Aristóteles pode nos ajudar a entender essa questão. Em sua Ética a Nicômaco, ele propõe que a virtude é sempre o meio-termo entre dois extremos: o excesso e a falta. Aplicando isso à lealdade, podemos pensar que o extremo oposto da lealdade seria a traição, enquanto o excesso seria a servidão. Para Aristóteles, a virtude da lealdade se encontraria no equilíbrio, na capacidade de ser leal sem deixar de ser justo consigo mesmo.

Outro dilema clássico de lealdade acontece no ambiente de trabalho. Suponha que você tenha dedicado anos à mesma empresa. Criou laços, construiu uma carreira, e se orgulha da sua contribuição. Mas chega um momento em que as coisas mudam — talvez uma nova gestão entre em cena, e a cultura da empresa deixe de refletir seus valores. Continuar leal à empresa é uma atitude honrável, mas será que vale sacrificar sua própria ética e bem-estar?

Hannah Arendt, filósofa alemã, fala muito sobre a importância de pensarmos por nós mesmos, mesmo dentro de estruturas que nos pedem lealdade inquestionável. Em seu conceito de “banalidade do mal”, ela argumenta que muitas pessoas cometem atos ruins, não por maldade, mas porque seguem ordens ou se mantêm leais a instituições ou pessoas, sem questionar a moralidade dessas ações. Então, talvez o maior dilema de lealdade seja saber quando questionar, quando a lealdade cega começa a obscurecer a linha entre o certo e o errado.

O fato é que lealdade, embora nobre, não pode ser uma armadilha. Ela precisa ser um compromisso consciente, renovado sempre que necessário. A lealdade a pessoas e instituições é válida, mas nunca deve vir ao custo da lealdade a si mesmo. 

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Ceifador Sem Coração

Estava caminhando pelo parque outro dia, quando vi uma cena que me fez refletir profundamente. Devido aos grandes temporais que assolaram nosso Estado houve muita destruição no arvoredo, e em especial me chamou a atenção uma árvore majestosa, que certamente tinha presenciado inúmeras estações e gerações, estava sendo cortada por estar oferecendo risco de queda. O som da motosserra rasgando sua madeira ressoava no ar, e eu não conseguia deixar de pensar na figura do ceifador, aquele que corta, que põe fim às coisas, sem piedade ou remorso. Uma arvore derrubada me é sempre muito triste.

O ceifador, essa figura enigmática e sombria, muitas vezes é retratado como alguém sem coração. Ele vem, faz o seu trabalho e segue em frente, indiferente ao impacto de suas ações. Mas, será que ele realmente é sem coração, ou será que essa é uma visão simplista e incompleta da sua natureza?

Pensei nas vezes em que a vida nos força a ser ceifadores sem coração. Às vezes, precisamos tomar decisões difíceis, cortar laços, abandonar projetos que não estão dando certo ou até mesmo dizer adeus a pessoas que foram importantes para nós. Esses momentos são como o som da motosserra, incômodos e inevitáveis, mas necessários para que novas coisas possam surgir.

Lembrei-me de uma conversa de tempos atras que tive com um amigo do curso de filosofia, falamos sobre a impermanência das coisas, um conceito budista. E que a natureza da vida é o constante ciclo de nascimento e morte, de começos e fins. Assim como as árvores no parque, nós também precisamos passar por esse ciclo para crescer e evoluir. A figura do ceifador, então, pode ser vista não como um vilão sem coração, mas como um agente da mudança, um facilitador do ciclo natural da vida.

Esse pensamento me trouxe algum consolo. A vida é cheia de momentos em que precisamos ser fortes e tomar decisões que, à primeira vista, parecem frias e insensíveis. No entanto, esses momentos são necessários para que possamos seguir em frente e abrir espaço para novas oportunidades e experiências.

Quando eu vi a árvore caindo, percebi que, apesar da dor de vê-la partir, sua madeira agora teria novos usos. Talvez se tornasse parte de uma casa, um móvel ou algo que traria alegria e utilidade para alguém. Da mesma forma, as decisões difíceis que tomamos na vida podem abrir caminho para algo novo e positivo, mesmo que não possamos ver isso imediatamente. O ceifador sem coração, então, não é necessariamente uma figura a ser temida, mas sim compreendida. Ele nos lembra que a vida é feita de ciclos e que, para cada fim, há um novo começo esperando para acontecer.


Presença do Imago

No turbilhão do cotidiano, somos constantemente cercados por imagens que moldam nossas percepções, inspirações e até mesmo nossas decisões. O termo "imago" pode parecer abstrato à primeira vista, mas está presente de maneiras poderosas em nossas vidas diárias, influenciando como interpretamos o mundo ao nosso redor e como nos vemos.

Imagine-se caminhando por uma rua movimentada da cidade. À sua volta, anúncios coloridos saltam das fachadas dos prédios, tentando capturar sua atenção com promessas de produtos inovadores e estilos de vida aspiracionais. Cada imagem, cuidadosamente projetada e escolhida, tenta criar uma imago em sua mente - uma representação idealizada de como a vida poderia ser se você adquirisse aquele produto ou seguisse aquela tendência.

No ambiente de trabalho, o imago se manifesta de maneiras sutis. Talvez você tenha uma imagem mental do que significa ser bem-sucedido em sua carreira: uma visão de si mesmo em um cargo de liderança, lidando com desafios complexos e sendo reconhecido por suas contribuições. Essa imago pode motivá-lo a buscar oportunidades de crescimento, a se esforçar para alcançar metas profissionais e a tomar decisões que alinhem com essa visão de sucesso.

E o que dizer das interações pessoais? Em um encontro romântico, por exemplo, o imago pode desempenhar um papel crucial. Você pode ter uma imagem idealizada do parceiro ideal - alguém que seja carinhoso, inteligente, engraçado, e que compartilhe dos mesmos valores e interesses que você. Essa imago influencia suas expectativas e o modo como você se relaciona com a pessoa ao seu lado.

No entanto, nem todas as imagens são positivas ou construtivas. Às vezes, carregamos imagens internas de nós mesmos que são distorcidas ou negativas. Essas imagens podem nos limitar, causando insegurança, autocrítica excessiva ou auto-sabotagem. Reconhecer e trabalhar conscientemente com essas imagens internas é essencial para promover um crescimento pessoal positivo e uma autoestima saudável.

O imago permeia nosso cotidiano de maneiras multifacetadas e profundas. É uma força que molda nossas percepções, influencia nossas escolhas e define nossas aspirações. Reconhecer a presença do imago nos ajuda a entender melhor nossos pensamentos e comportamentos, permitindo-nos cultivar imagens internas que nos inspirem, nos fortaleçam e nos impulsionem na direção de uma vida mais autêntica e gratificante. 

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Escravidão de Todos

Sabe aquele momento em que você está assistindo um documentário, navegando na internet ou até mesmo lendo um livro, e de repente uma realidade crua e chocante te atinge como um soco no estômago? Pois é, aconteceu comigo outro dia. Estava vendo um vídeo sobre trabalho escravo moderno (O Verdadeiro Custo) e, de repente, percebi que a escravidão não é algo enterrado no passado, mas uma terrível verdade do presente. Fiquei pensando em como, mesmo hoje, em pleno século XXI, tantas pessoas ainda vivem sob condições desumanas e exploratórias. É como se as correntes tivessem mudado de forma, mas ainda estivessem lá, prendendo milhões de vidas.

E caramba, às vezes me pego pensando nas armadilhas da tecnologia social. Tipo, a gente está tão conectado, né? Mas será que essa conexão toda não tá nos prendendo de outra forma? Tipo, com as redes sociais monitorando cada passo nosso, vendendo nossos dados, moldando até nossas opiniões. E não é só isso, é a dependência dessas plataformas, das grandes empresas de tecnologia que controlam o que vemos e fazemos online. A sensação é que, no fim das contas, a gente tá sendo guiado por algoritmos, perdendo um pouco da nossa liberdade sem nem perceber. É como se estivéssemos todos um pouco escravizados por essa tecnologia que, ao mesmo tempo que nos conecta, nos aprisiona em bolhas de informação e influência.

Vivemos num mundo onde o ser humano poderia ser melhor e mais gentil, quando pensamos sobre o tema escravidão percebemos como o ser humano pode ser cruel. A escravidão é um dos capítulos mais sombrios da história da humanidade. Embora muitos associem a escravidão aos tempos antigos ou ao período colonial, suas repercussões e formas contemporâneas ainda ressoam no cotidiano moderno. Então, vamos pensar sobre este tema, observando como ele se manifesta hoje e refletindo sobre isso com o auxílio de um pensador.

A Escravidão no Cotidiano Moderno

Trabalho Escravo Contemporâneo

Hoje, o trabalho escravo não se limita a correntes físicas, mas muitas vezes se manifesta em condições de trabalho desumanas e exploração extrema. Por exemplo, trabalhadores em fábricas têxteis em países em desenvolvimento, que são forçados a trabalhar longas horas por salários miseráveis, sob condições insalubres e sem direitos trabalhistas básicos, estão vivendo uma forma moderna de escravidão. Essa realidade não está distante; muitas das roupas que vestimos são produzidas por essas mãos escravizadas.

Escravidão Doméstica

Em diversas partes do mundo, há relatos de pessoas, principalmente mulheres e crianças, sendo mantidas em condições de servidão doméstica. Muitas vezes, essas pessoas são migrantes ilegais que, ao tentar buscar uma vida melhor, acabam sendo aprisionadas em lares onde trabalham sem remuneração justa, são abusadas e têm seus documentos retidos pelos empregadores.

Tráfico Humano

O tráfico humano é outra forma moderna de escravidão. Pessoas são sequestradas ou enganadas com promessas de emprego e, ao invés disso, são vendidas para exploração sexual, trabalho forçado ou outras atividades ilícitas. É um mercado negro que movimenta bilhões de dólares anualmente e que continua a ser um flagelo global.

Reflexões de um Pensador: Karl Marx

Para abordar essas questões, recorremos às reflexões de Karl Marx, um dos pensadores mais influentes no estudo das relações de trabalho e exploração. Marx argumentava que o capitalismo, por sua natureza, tende a explorar a força de trabalho. Ele observou que, na busca incessante pelo lucro, os proprietários dos meios de produção (a burguesia) exploram os trabalhadores (o proletariado) de maneiras que muitas vezes se assemelham à escravidão.

A Alienação do Trabalhador

Marx falava sobre a alienação do trabalhador, que ocorre quando os trabalhadores são separados dos produtos de seu trabalho. Em fábricas modernas, por exemplo, um operário pode passar o dia todo apertando parafusos em uma linha de montagem sem nunca ver o produto final. Essa separação cria uma desconexão e desumaniza o trabalhador, transformando-o em uma mera engrenagem na máquina de produção.

O Valor da Força de Trabalho

Para Marx, a exploração ocorre porque os trabalhadores vendem sua força de trabalho por menos do que o valor que eles realmente produzem. Esse excedente de valor é apropriado pelos capitalistas como lucro. Em condições extremas, como no trabalho escravo moderno, essa exploração é levada ao extremo, onde os trabalhadores podem nem mesmo receber um salário digno ou qualquer tipo de remuneração justa.

A escravidão, em suas várias formas, persiste em nossa sociedade contemporânea. Seja nas fábricas de roupas, no serviço doméstico ou através do tráfico humano, milhões de pessoas ainda vivem sob condições de exploração extrema. Reflexões de pensadores como Karl Marx nos ajudam a entender as raízes dessas injustiças e a necessidade de lutar por um mundo onde todos possam trabalhar com dignidade e respeito. A conscientização é o primeiro passo para a mudança, e é crucial que continuemos a expor e combater todas as formas de escravidão moderna.

Vídeo sobre trabalho escravo moderno:

https://www.youtube.com/watch?v=rwp0Bx0awoE (trailer)

https://www.youtube.com/watch?v=Ijl2LUCINT0 (filme “O Verdadeiro Custo”)


segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Essencial da História

Enquanto olhava distraidamente pela janela, me peguei pensando no que seria contar a história do Brasil de forma bem simples, quase como se fosse uma conversa casual sobre o que já rolou por aqui. Então peguei um livro de História do Brasil e comecei a olhar o índice e tentar montar um roteiro na cabeça, não é fácil, afinal são quinhentos anos. É engraçado como, às vezes, a gente olha para trás e tudo parece tão distante, mas também tão presente. E foi assim que me veio à mente essa sequência de acontecimentos que moldaram o país em que vivemos hoje.

Vamos pensar que tudo começa em 1500(?), quando Pedro Álvares Cabral e sua tripulação chegaram por acaso(?) nas praias do que eles nem imaginavam ser o Brasil. Eles estavam em busca de rotas comerciais, mas acabaram encontrando terras habitadas por povos indígenas, que já viviam aqui há séculos, com uma cultura própria, cheia de rituais, modos de vida, e um respeito pela natureza que os europeus não entendiam muito bem. Mas, claro, o interesse dos portugueses não era aprender com os indígenas, e sim explorar as riquezas do lugar. O pau-brasil, com sua madeira valiosa, foi só o começo de uma longa história de extração e exploração.

A colonização portuguesa, que durou mais de 300 anos, foi marcada pela exploração de tudo que se podia tirar dessas terras: primeiro, o pau-brasil, depois a cana-de-açúcar e, por fim, o ouro e os diamantes. E, para garantir essa produção toda, os portugueses se apoiaram na escravidão. Primeiro, tentaram escravizar os indígenas, mas quando isso não deu certo, trouxeram milhões de africanos para cá. O trabalho escravo sustentou a economia da colônia por séculos, e as consequências disso são sentidas até hoje, com uma sociedade profundamente desigual.

Em 1822, o Brasil finalmente se tornou independente. Dom Pedro I, filho do rei de Portugal, decidiu que seria mais conveniente para ele mandar por aqui do que voltar para a Europa. A famosa frase "Independência ou morte" marca o começo de um Brasil oficialmente separado de Portugal, mas as estruturas de poder e riqueza continuaram as mesmas. A elite branca, dona de terras, ainda mandava no país, e a escravidão só seria abolida 66 anos depois, em 1888, com a assinatura da Lei Áurea pela princesa Isabel. Mas a abolição, infelizmente, não trouxe as mudanças que os ex-escravizados precisavam – eles foram deixados sem terras, sem educação, e sem o apoio necessário para construir uma nova vida.

O século XX trouxe uma nova onda de transformações. Logo no início, o Brasil ainda era um país agrário, baseado no café, mas começava a se industrializar. As oligarquias do café dominaram a política até a Revolução de 1930, que colocou Getúlio Vargas no poder e mudou bastante coisa. Getúlio trouxe algumas ideias de modernização, criou leis trabalhistas e deu um empurrão para a industrialização, mas também era autoritário. Depois de sua era, o Brasil entrou num período de instabilidade, que culminou no golpe militar de 1964.

Durante a ditadura militar, o Brasil viveu sob repressão por 21 anos. A censura, a tortura, e a supressão das liberdades marcaram essa época, mas também foi nesse período que o país se modernizou ainda mais economicamente, com grandes obras de infraestrutura. O custo social e político, no entanto, foi imenso. Em 1985, a ditadura finalmente chegou ao fim, e o Brasil voltou a respirar ares democráticos com a promulgação de uma nova Constituição em 1988.

Desde então, o Brasil tem vivido entre altos e baixos. Passamos por momentos de crescimento econômico e por crises políticas graves, como o impeachment de presidentes e escândalos de corrupção que sacudiram as bases da nossa jovem democracia. Mas, ao mesmo tempo, o Brasil floresceu como um país culturalmente rico, cheio de diversidade, música, culinária, e modos de ser que encantam o mundo. Hoje, o desafio é lidar com os velhos problemas de desigualdade, injustiça social e corrupção, mas com os olhos no futuro, tentando construir um país mais justo e inclusivo.

E é assim que de maneira muito resumida, olhando para trás, parece que cada pedaço dessa história, por mais doloroso ou difícil que tenha sido, ajudou a formar o Brasil do jeito que ele é: cheio de contradições, mas também de uma vitalidade imensa. A história continua, e a cada dia a gente vai escrevendo o próximo capítulo – quem sabe com um pouco mais de consciência do que ficou para trás. 

domingo, 22 de setembro de 2024

Rebaixar o Outro

Outro dia quando caminhava no parque estava pensando como é mais fácil rebaixar o outro, durante a caminhada lembrei de uma circunstância em que não gostei, os colegas estavam conversando entre si quando ouvi uma fala que entrou “quadrada” em meus ouvidos. Você já percebeu como é mais fácil rebaixar o outro do que reconhecer suas qualidades? Parece que há uma certa facilidade em desmerecer quem está ao nosso redor, como se isso nos elevasse automaticamente. Quando alguém brilha, é comum ver ao redor uma sombra de ciúme, e a reação quase automática de muitos é criticar, apontar erros, ou minimizar o esforço do outro. “Ah, foi sorte”, “ele só conseguiu isso porque tinha contatos”, “nem é tudo isso”.

Essa atitude tem a ver com a nossa própria fragilidade interna. Muitas vezes, ao invés de lidar com nossas inseguranças, projetamos no outro nossos medos e frustrações. É uma defesa primitiva, como se derrubar o outro fosse uma forma de proteção para o nosso ego. Rebaixar o outro nos faz sentir, por um instante, que somos melhores, mesmo que isso não passe de uma ilusão temporária. Não é que a pessoa criticada se torne menor; na verdade, a crítica diz mais sobre quem a faz.

O filósofo contemporâneo Slavoj Žižek tem uma visão interessante sobre essa dinâmica. Segundo ele, o ato de criticar o outro muitas vezes serve como uma forma de escapar de nossos próprios problemas. Em sua visão, muitas de nossas interações sociais são baseadas no ressentimento e na inveja, e isso está profundamente enraizado no modo como enxergamos a sociedade. Em vez de admirar o sucesso alheio, muitas vezes somos consumidos por um desejo de ver os outros fracassarem, para não termos que lidar com o desconforto de questionar nossas próprias vidas e escolhas.

Em vez de projetar essa negatividade, Žižek sugere que deveríamos usar o sucesso dos outros como uma oportunidade de autocrítica construtiva. O que aquele sucesso nos diz sobre as nossas limitações e como podemos crescer a partir disso? Mas claro, essa é uma tarefa difícil. É muito mais fácil colocar o outro para baixo do que fazer essa reflexão interna.

No dia a dia, isso aparece nas pequenas coisas: aquela colega de trabalho que consegue um elogio do chefe, e a gente já pensa "ela só está se mostrando"; o vizinho que compra um carro novo e logo surgem os comentários "ele deve estar se endividando até o pescoço". São exemplos cotidianos de como tentamos invalidar as conquistas alheias. 

E assim seguimos, rebaixando o outro para tentar preservar uma imagem que, no fundo, sabemos ser frágil. A questão é: será que, ao invés de criticar, não poderíamos tentar aprender? Afinal, como Žižek aponta, o sucesso do outro pode ser um espelho para o nosso próprio potencial, se conseguirmos deixar de lado o ressentimento. 

Bobagem, Irrelevância


Já percebeu como a bobagem e a irrelevância tomam espaço no nosso dia a dia? De repente, você está ali, com seu tempo e atenção sugados por um vídeo que não leva a lugar nenhum, uma discussão de redes sociais sobre um tema tão passageiro quanto a moda do momento, ou até mesmo aquela conversa no ponto de ônibus sobre o clima, que todo mundo sabe como vai terminar: "ah, tomara que não chova".

A irrelevância, por mais que a gente tente evitá-la, parece uma sombra que nos persegue. No entanto, será que essa "bobagem" é tão irrelevante assim? Ou, de alguma maneira, ela molda nossas experiências, nos dá pequenos respiros da rotina, ou até ajuda a construir algum sentido mais profundo, mesmo que não percebamos de imediato?

O filósofo francês Gilles Deleuze traz uma reflexão interessante sobre o que consideramos "bobagem" ou irrelevante. Ele dizia que o pensamento criativo e o processo de aprendizado nascem, muitas vezes, daquilo que é visto como periférico. Ou seja, aquilo que parece fora do centro da nossa atenção, o que não parece importante de cara, pode ser a chave para novas conexões de ideias. Ele defendia que o "devir", essa constante transformação e movimento da vida, nos desafia a não ignorar a aparente irrelevância. Para ele, é nesse espaço do "acaso" que as verdadeiras revoluções mentais acontecem.

Então, quando você se pegar rindo de um meme ou refletindo sobre uma piada sem graça, talvez esteja, na verdade, abrindo espaço para a criatividade. A bobagem tem seu lugar, e muitas vezes é uma pausa necessária para o cérebro processar algo maior. Como Deleuze nos lembra, o que parece ser inútil pode ser o ponto de partida para novas realidades.

sábado, 21 de setembro de 2024

Deixar Pra Lá

Sabe quando a gente se depara com algo que incomoda, uma situação que exige uma resposta, mas, em vez de confrontá-la, a gente simplesmente pensa: "deixa pra lá"? Pode ser uma discussão que não vale o desgaste, um mal-entendido que parece menor do que o esforço de esclarecer, ou até uma oportunidade que simplesmente passa. A sensação de alívio vem quase imediatamente, como se empurrar para o canto da mente resolvesse o problema. Mas será que resolve mesmo?

Deixar pra lá parece uma estratégia comum no nosso dia a dia, quase um mecanismo de defesa. Quantas vezes a gente vê alguém se irritando no trânsito, leva um corte no trabalho, ou até em casa, com pequenas frustrações, e decide que o melhor é deixar pra lá? Afinal, insistir parece só gerar mais estresse. Aparentemente, a paz momentânea ganha do conflito.

O Peso Invisível

O problema é que, ao longo do tempo, essas situações deixadas de lado começam a pesar. É como tentar limpar a casa jogando poeira debaixo do tapete. Você não vê a sujeira, mas ela está ali, crescendo. Psicologicamente, isso pode se manifestar como ansiedade, irritabilidade, e até um cansaço existencial. As questões não resolvidas ficam rodando no subconsciente, e às vezes até voltam à tona quando menos esperamos, numa simples conversa ou num momento de introspecção.

Nietzsche, o filósofo alemão, tem uma frase interessante para essa ideia: “O que não enfrentamos em nós mesmos acabará se tornando nosso destino.” Ele toca justamente no ponto de que ignorar ou deixar pra lá não nos livra da questão, apenas adia o confronto. E, muitas vezes, a espera só aumenta o tamanho do desafio.

Sabedoria ou Covardia?

Há uma linha tênue entre a sabedoria de saber quando deixar algo passar e a covardia de evitar o confronto. A filosofia estoica, por exemplo, nos ensina a distinguir o que está sob nosso controle do que não está. Em situações onde realmente não podemos mudar nada, talvez o melhor seja deixar pra lá, praticando o desapego. Epicteto, um dos grandes estoicos, dizia: “Não é o que acontece com você, mas como você reage a isso que importa.”

Mas e quando algo é, de fato, controlável? Quando temos a oportunidade de resolver um mal-entendido ou de enfrentar uma situação desconfortável e optamos por deixar pra lá, será que estamos exercitando a sabedoria estoica ou estamos apenas evitando o desconforto?

Talvez a resposta esteja na intenção por trás da escolha. Se deixar pra lá vem de uma decisão consciente, ponderada, onde pesamos os benefícios e as consequências, então é uma ação intencional e até nobre. Mas se vem de medo ou preguiça, pode ser uma forma de escapar da responsabilidade.

O Confronto Consigo Mesmo

Deixar pra lá é, muitas vezes, deixar para depois. Mas esse "depois" pode nos encontrar num momento mais vulnerável, quando as pequenas coisas que acumulamos finalmente transbordam. Talvez a questão não seja tanto sobre confrontar o outro ou uma situação específica, mas enfrentar o desconforto que sentimos internamente ao lidar com o que nos incomoda. Nesse ponto, deixar pra lá pode ser mais um adiamento de um confronto com nós mesmos.

Freud, pai da psicanálise, talvez diria que deixar pra lá é reprimir algo. E o que é reprimido, mais cedo ou mais tarde, retorna de maneira distorcida. Aquilo que escolhemos evitar não desaparece, apenas se transforma em outro tipo de sofrimento.

Um Equilíbrio Necessário

No fim, deixar pra lá pode ser tanto uma virtude quanto um vício, dependendo do contexto e da nossa postura diante disso. A vida exige um certo jogo de cintura, um equilíbrio entre o que merece nossa atenção e o que pode ser deixado para trás. Aprender a fazer essa distinção é parte do nosso crescimento pessoal. Afinal, nem tudo precisa ser resolvido, mas também nem tudo pode ser ignorado.

Quando deixamos pra lá de forma consciente e com sabedoria, talvez encontremos uma leveza que realmente nos liberta. Caso contrário, podemos acabar carregando um fardo invisível, que só aumenta com o tempo. E você? Será que tudo que você "deixou pra lá" realmente ficou no passado, ou, no fundo, ainda te acompanha? 

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Tempo Perdido

Não era mais o mesmo. Quem nunca sentiu isso? Em algum momento, a gente se pega refletindo sobre quem éramos e quem nos tornamos, como se houvesse uma quebra entre o antes e o agora. Parece que certas experiências, decisões ou até mesmo os dias comuns moldaram algo fundamental dentro de nós. Talvez seja a maturidade que chegou, ou quem sabe, apenas o peso da rotina. O que é certo é que, de alguma forma, nos tornamos estranhos a nós mesmos. Me flagrei pensando sobre isto enquanto ouvia a música “Tempo Perdido”, da banda Legião Urbana, Renato Russo fala sobre a passagem do tempo e como, ao longo dos anos, as pessoas mudam e evoluem, refletindo o sentimento de não ser mais o mesmo. A canção lida com as inevitáveis transformações da vida e a percepção de que o tempo nos molda, trazendo essa noção de que estamos em constante mudança.

Link da música no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=tI9kSZgMLsc

Vamos pensar em algo bem cotidiano. Lembra daquela época em que você não conseguia sair de casa sem arrumar cada detalhe do visual, ou fazia questão de ter a última palavra em uma discussão? E hoje, você se pega saindo de chinelo para ir ao mercado, sem se importar com o que os outros pensam, ou simplesmente deixa o outro falar, percebendo que não vale a pena discutir. Não era mais o mesmo.

Esse sentimento de mudança, de deslocamento interno, é uma sensação que muitos filósofos já discutiram. Heráclito, por exemplo, nos lembra que "ninguém se banha duas vezes no mesmo rio." Isso porque, assim como o rio, nós estamos em constante movimento. O rio flui, muda, e mesmo que tentemos entrar nas mesmas águas, elas já não são as mesmas. Da mesma forma, a pessoa que fomos ontem já não é a mesma hoje. Nossas experiências, emoções, pensamentos – tudo isso é dinâmico.

É curioso observar como pequenos detalhes do dia a dia mostram essas mudanças. Sabe aquela amizade que você cultivou por anos e que, de repente, não parece mais fazer tanto sentido? Ou aquele trabalho que antes te desafiava e agora parece apenas uma sequência de tarefas automáticas? Nesses momentos, percebemos que crescemos, mudamos e que talvez o mundo ao nosso redor não acompanhou esse ritmo. Ou quem sabe, fomos nós que tomamos um caminho diferente.

Schopenhauer, com seu pessimismo filosófico, diria que essa transformação é parte do sofrimento inerente à vida. Ele acreditava que, em nossa busca incessante por realização e sentido, acabamos inevitavelmente nos desapontando com as realidades do mundo. O "não ser mais o mesmo" seria, então, a constatação de que a vida não cumpre as promessas que um dia pensamos que ela faria. Mas há beleza nisso também. É nesse desencontro entre o que esperávamos e o que recebemos que crescemos, nos tornamos mais resilientes, mais complexos.

E, se a gente for um pouco mais longe, dá para pensar em Nietzsche. Ele acreditava que as mudanças em nós não deveriam ser vistas com melancolia, mas como parte da nossa potencialidade. Ele fala sobre o conceito de "eterno retorno" – a ideia de que a vida é cíclica, e que devemos abraçar cada mudança e cada versão de nós mesmos como algo necessário para a nossa evolução. Ou seja, não era mais o mesmo, e isso é bom! Faz parte do processo de se reinventar.

Então, quando perceber que não é mais o mesmo – seja ao tomar decisões diferentes, rever antigas paixões, ou até na maneira de encarar o mundo – talvez seja hora de celebrar. Afinal, é um sinal de que a vida está em movimento, que você está crescendo. Como Heráclito disse, não podemos nos banhar duas vezes no mesmo rio, e ainda bem que não podemos.


Sentidos e Janelas

"Nossos sentidos são como janelas para o mundo." É uma metáfora que, embora simples, captura a essência de como percebemos e interagimos com a realidade ao nosso redor. Imagine as janelas de uma casa: através delas, a luz entra, revelando o que está fora. Mas também, o que vemos através das janelas é moldado por sua posição, tamanho, limpeza, e até pela forma como escolhemos olhar através delas. Assim são nossos sentidos.

Os olhos, por exemplo, são as janelas mais óbvias. Através deles, a luz entra e nos mostra formas, cores, movimentos. Mas não vemos tudo o que existe—apenas o que está dentro do nosso campo de visão e do alcance da luz. E até mesmo essa visão é filtrada pelo nosso cérebro, que interpreta o que vê com base em experiências passadas, contextos culturais e expectativas pessoais.

Os ouvidos, outra janela, captam os sons do mundo. Uma conversa ao longe, o barulho da chuva caindo, o sussurro do vento. Mas, assim como uma janela pode estar fechada, nossos ouvidos também podem estar seletivamente "fechados", prestando atenção apenas ao que queremos ouvir. Ou, por vezes, ouvimos algo sem realmente escutar, com a mente em outro lugar, e essa janela se torna embaçada, não permitindo uma percepção clara do que está acontecendo ao redor.

Até o tato, olfato e paladar são janelas, talvez menos óbvias, mas igualmente importantes. Eles nos conectam de maneira íntima com o mundo. O toque de uma mão, o cheiro de um café fresco, o sabor de um pão recém-saído do forno—são experiências que atravessam essas janelas sensoriais, trazendo o mundo externo para dentro de nós, de uma forma que é tanto física quanto emocional.

Porém, assim como qualquer janela, nossos sentidos podem ser limitados. As janelas nem sempre mostram a totalidade do que está lá fora. Às vezes, o que vemos, ouvimos, tocamos, cheiramos ou provamos é apenas uma parte da realidade, filtrada ou até distorcida pelas janelas que são nossos sentidos. Pode haver algo fora do nosso campo de visão, um som que escapa à nossa audição, um toque que não sentimos. E, às vezes, nossas "janelas" estão sujas ou quebradas, e o que percebemos do mundo é incompleto ou enganoso.

A filosofia frequentemente reflete sobre a ideia de que nossos sentidos não são janelas perfeitas. Platão, em sua alegoria da caverna, sugere que o que percebemos através dos sentidos pode ser apenas sombras da realidade. Kant vai mais longe, dizendo que o mundo como o percebemos é filtrado por nossas próprias estruturas mentais. Em suma, o que vemos através das janelas dos sentidos não é o mundo em si, mas uma interpretação dele.

Essa metáfora nos lembra que, enquanto nossos sentidos nos conectam com o mundo, eles também são limitados e subjetivos. Assim como olhar pela janela de uma casa não revela todo o mundo lá fora, nossas percepções sensoriais são apenas uma parte da experiência completa da realidade. Para realmente compreender o mundo, talvez seja necessário abrir mais do que apenas as janelas—é preciso sair para fora e explorar, sabendo que a nossa percepção é apenas uma parte do que realmente está lá. 

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Oportunidades na Realidade

Sabe aqueles momentos em que a vida parece andar no piloto automático e, de repente, você percebe que passou por várias oportunidades sem nem notar? Pode ser aquela chance de conversar com alguém no trabalho que poderia mudar sua perspectiva ou até uma simples decisão que faria o dia correr mais tranquilo. Muitas vezes, a gente se perde tanto nas nossas próprias ideias, preocupações ou distrações que acaba deixando essas chances escaparem.

É como estar num café, distraído olhando para o celular, e não perceber que uma conversa interessante está acontecendo bem ao lado. A realidade está ali, mas estamos com a mente em outro lugar. E é justamente nesses momentos de desatenção que as oportunidades passam despercebidas. Então, como enxergar melhor o que acontece ao nosso redor e aproveitar as oportunidades que surgem?

Quando não enxergamos a realidade de forma clara, também não enxergamos as portas que se abrem, mesmo nas situações mais cotidianas. Vamos refletir um pouco sobre essa ideia e ver como o olhar atento para o mundo pode mudar a forma como vivemos nossas vidas.

Quem não enxerga a realidade também perde a chance de identificar as oportunidades que aparecem. Quando estamos presos em ilusões, preconceitos ou distrações, não conseguimos perceber o que está acontecendo ao nosso redor de forma clara. Muitas vezes, o que vemos é apenas a projeção dos nossos desejos ou medos, e isso nos afasta da realidade objetiva.

As oportunidades, por sua vez, estão conectadas ao reconhecimento do que é real. Elas podem estar em pequenas mudanças no cotidiano, em uma conversa inesperada ou até em um desafio que, à primeira vista, parece ser um obstáculo. Mas se não estivermos abertos ao que o momento nos apresenta, essas chances passam despercebidas. É como caminhar por uma estrada sem notar as flores nas laterais ou os atalhos que podem facilitar o caminho.

Nietzsche, por exemplo, em sua crítica àqueles que vivem em uma ilusão confortável, argumenta que encarar a realidade, por mais dura que seja, é o primeiro passo para viver de forma plena e consciente. Apenas quando estamos dispostos a olhar com sinceridade para o que é real, somos capazes de encontrar as oportunidades escondidas nas adversidades. 

Enxergar a realidade é, portanto, um exercício de atenção e humildade. É preciso abandonar fantasias ou ideias predefinidas sobre o que o mundo deveria ser e, em vez disso, abraçar o que ele realmente é, com todas as suas complexidades. Isso nos torna aptos a reconhecer as oportunidades, que muitas vezes se disfarçam de problemas ou de caminhos difíceis, mas que, ao serem abraçadas, podem nos levar a novas possibilidades e realizações.