Um
ensaio sobre gravidade humana
Tem
gente que entra num ambiente e muda o ar. Não precisa dizer nada, nem bater
palmas ou erguer a voz. Basta estar. Algo na sua postura, no olhar calmo, no
silêncio firme, faz os outros prestarem atenção. Às vezes é alguém quieto, que
não fala muito, mas quando fala, todo mundo escuta. Essa é a tal da presença
de comando — não é autoridade forçada, nem arrogância disfarçada. É uma
espécie de gravidade humana.
Mas
o que é, afinal, essa presença? E por que ela faz diferença até em um grupo de
amigos, numa sala de aula ou num momento de crise?
Vamos
por partes.
Mais
que aparência, é densidade
Presença
de comando não é sobre estar no centro do palco, mas sobre ter um centro. É
algo mais parecido com densidade do que com volume. Pessoas com essa presença
parecem ter um eixo interno bem alinhado: sabem por que estão ali, o que
defendem, o que toleram e o que não aceitam. Não estão ocupadas em se mostrar,
estão ocupadas em ser.
Na
linguagem da filosofia existencialista, poderíamos dizer que essa pessoa
“assumiu a responsabilidade pelo próprio ser”. Jean-Paul Sartre afirmava que o
ser humano está condenado a ser livre — e essa liberdade nos obriga a tomar
decisões que definem quem somos. Quem tem presença de comando não foge disso.
Assume. Encara. Carrega o próprio nome como quem carrega uma tocha.
Não
é dom, é postura
A
ideia de que presença de comando é um dom natural só serve para excluir os
tímidos e os calados. Mas a verdade é que essa presença se constrói. Ela se
forma quando alguém se conhece o suficiente para não precisar competir com os
outros o tempo todo. Quando aprende a ouvir mais do que falar. Quando passa a
agir com clareza, mesmo em meio ao caos.
Em
um ambiente corporativo, por exemplo, a pessoa que tem essa presença não é a
que mais fala na reunião, mas a que todos procuram quando o plano falha. No
futebol, é aquele jogador que não precisa gritar para ser líder — basta um
gesto, uma escolha, uma atitude em campo. Em casa, pode ser o avô que fala
pouco, mas cuja opinião pesa. É como se essas pessoas tivessem um tempo
interno diferente: menos apressado, mais presente.
O
paradoxo do invisível
Curiosamente,
a presença de comando tem um aspecto paradoxal: quanto mais ela é verdadeira,
menos ela se impõe. É como uma luz suave que não cega, mas guia. Talvez por
isso o filósofo chinês Lao-Tsé tenha dito: “Quando o melhor líder
termina sua tarefa, o povo diz: fizemos nós mesmos”.
Nesse
sentido, quem tem presença de comando não precisa controlar. Controlar é o
reflexo da insegurança. Comandar é guiar sem prender. Inspirar sem depender. E
isso só é possível quando o ego está no lugar certo — não à frente, mas em paz.
A
arte de estar
No
fundo, ter presença de comando é dominar a arte de estar com
integridade. É a coragem de sustentar o próprio silêncio quando todos falam. É
a capacidade de decidir sem pressa. De enxergar mais do que apenas os fatos:
enxergar o momento, o clima, o invisível.
A
filósofa brasileira Viviane Mosé disse certa vez que “quem não aguenta o
próprio vazio, preenche o mundo de ruído”. Talvez a presença de comando seja o
contrário disso: alguém que aguenta o silêncio — e por isso, quando fala ou
age, todo o mundo escuta.
E
você, já conheceu alguém assim? Ou, quem sabe, já se viu assim sem perceber?
Talvez a presença de comando comece quando a gente para de tentar aparecer — e
começa a simplesmente estar inteiro.
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