Sabe aquela ideia que parece óbvia, mas, quando você começa a pensar sobre ela, percebe que é um labirinto? Como tentar explicar para uma criança por que o céu é azul ou por que o tempo parece passar mais rápido quando estamos nos divertindo. Essas perguntas parecem simples, até que tentamos realmente respondê-las. Esse é o terreno do "falsamente simples".
Muitas
das questões mais complexas da filosofia e da vida se escondem sob uma aparente
simplicidade. A verdade, a liberdade, a felicidade, a justiça — conceitos que
usamos diariamente sem pensar muito. Mas basta um pequeno desvio do uso
corriqueiro para que essas palavras se tornem armadilhas conceituais. O que é a
verdade? Será que liberdade significa apenas a ausência de restrição? Podemos
realmente definir felicidade sem cairmos em uma sucessão infinita de perguntas?
No
cotidiano, a ilusão do "falsamente simples" se manifesta de várias
formas. Pense em um conselho popular como "siga seu coração". Parece
fácil, até que nos damos conta de que o coração não fala uma língua clara, e o
que sentimos nem sempre está em sintonia com a realidade. Ou então o clássico
"conhece-te a ti mesmo", atribuído a Sócrates. Parece um
mandamento direto, mas quem já tentou de fato se conhecer sabe que isso envolve
camadas de ilusão, autoengano e descobertas que podem ser desconfortáveis.
Filósofos
e pensadores sempre desconfiaram do que é aparentemente simples. Ludwig
Wittgenstein, por exemplo, mostrou como a linguagem que usamos no dia a dia
carrega ambiguidades escondidas, e como ideias que parecem transparentes podem,
na verdade, estar cheias de armadilhas lógicas. Já Merleau-Ponty nos
lembra que a própria percepção é um fenômeno enganoso — aquilo que vemos como
natural e imediato é, na verdade, um processo cheio de interpretações
inconscientes.
A
armadilha do "falsamente simples" está em todos os lugares. Nos
relacionamentos, onde um gesto pequeno pode ter significados ocultos; na
política, onde soluções rápidas quase sempre ignoram a complexidade das causas;
na ciência, onde até o conceito de um "fato" pode ser discutido em
termos filosóficos.
Talvez
o verdadeiro sinal de inteligência não seja dar respostas rápidas, mas
suspeitar daquilo que parece simples demais. Como dizia Leonardo da Vinci:
"A simplicidade é o último grau da sofisticação". Mas até chegar lá,
precisamos aprender a navegar o labirinto do falsamente simples.
Nenhum comentário:
Postar um comentário