Pensamentos antes do café...
Antes
do café, o mundo é um lugar meio embaçado. As ideias ainda estão no modo
soneca, a memória falha em lembrar onde está a chave, e a lógica tropeça nas
próprias palavras. Antes do café, os planos são apenas sombras do que poderiam
ser, e a vontade de conversar com alguém parece um esforço digno de heróis.
Há
quem diga que o dia começa com o despertador. Mas, sejamos sinceros: o dia
começa quando o café entra em cena. Antes dele, a alma está em modo de espera,
como um navegador offline tentando carregar o mapa da existência. É nesse
intervalo, entre o levantar do corpo e o despertar da mente, que habitam os
pensamentos mais sinceros – os que não foram ainda editados pela razão ou
moldados pela conveniência.
Antes
do café, você se lembra de quem precisa ligar, mas não tem energia para o papo.
Você pensa nas contas, mas acha melhor não abrir o aplicativo do banco. Antes
do café, até a coragem parece pedir cinco minutinhos a mais.
E
talvez seja aí que mora uma verdade sutil: esse tempo suspenso, meio turvo,
revela um você cru, sem defesas. Um ser honesto na confusão, aberto àquilo que
o dia quiser trazer. Como diz o poeta Manoel de Barros, “o mundo não foi
feito em alfabeto”, e talvez por isso as primeiras palavras do dia demorem
tanto a fazer sentido.
Depois
do café, claro, tudo muda. A ordem volta, a coragem se ajusta à roupa do dia, e
a razão toma a frente. Mas os pensamentos antes do café... esses, ah, esses são
os mais humanos.
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