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quinta-feira, 3 de julho de 2025

Reflexões Curtas

O grão de areia da consciência

Vivemos num tempo em que tudo precisa caber em um parágrafo, um tuíte, um reels. Parece superficial, mas talvez estejamos diante de um fenômeno mais profundo: a era das reflexões curtas. Seriam elas sintomas da pressa ou sementes da lucidez?

Um pensamento curto não é necessariamente raso. Um haicai contém mais mundo do que muitos romances. Um provérbio pode resumir gerações de sabedoria. O silêncio entre duas frases pode falar mais do que ambas. Reflexões curtas, quando verdadeiras, não são simplificações — são condenações à essência. Cortam o que é vaidade e entregam só o núcleo.

É possível que estejamos, sem perceber, tentando reencontrar uma forma antiga de pensar: a do aforismo, do koan, do lampejo súbito que nos obriga a parar. No fundo, queremos que uma frase nos freie no meio da rotação da Terra. Algo que nos diga: “Você também sente isso, não é?” E ali, naquela fagulha, acende-se a comunhão humana.

Nietzsche escreveu aos pedaços. Cioran, como quem atira estilhaços contra o céu. Simone Weil dizia que a atenção pura é uma oração — e uma frase pode ser uma oração se vier de um pensamento inteiro.

Talvez o problema não esteja na brevidade da reflexão, mas na falta de intervalo para que ela ressoe. Um bom pensamento precisa de eco. Não é preciso escrever longo, mas é preciso demorar-se. O perigo não está nas reflexões curtas, mas na vida sem pausa para refletir.

Pensar, afinal, não é construir castelos. Às vezes, é só perceber que há vento. E isso basta.

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