O grão de areia da consciência
Vivemos
num tempo em que tudo precisa caber em um parágrafo, um tuíte, um reels. Parece
superficial, mas talvez estejamos diante de um fenômeno mais profundo: a era
das reflexões curtas. Seriam elas sintomas da pressa ou sementes da
lucidez?
Um
pensamento curto não é necessariamente raso. Um haicai contém mais mundo do que
muitos romances. Um provérbio pode resumir gerações de sabedoria. O silêncio
entre duas frases pode falar mais do que ambas. Reflexões curtas, quando
verdadeiras, não são simplificações — são condenações à essência. Cortam
o que é vaidade e entregam só o núcleo.
É
possível que estejamos, sem perceber, tentando reencontrar uma forma antiga de
pensar: a do aforismo, do koan, do lampejo súbito que nos obriga a parar. No
fundo, queremos que uma frase nos freie no meio da rotação da Terra. Algo que
nos diga: “Você também sente isso, não é?” E ali, naquela fagulha, acende-se a
comunhão humana.
Nietzsche
escreveu aos pedaços. Cioran, como quem atira estilhaços contra o céu. Simone
Weil dizia que a atenção pura é uma oração — e uma frase pode ser uma
oração se vier de um pensamento inteiro.
Talvez
o problema não esteja na brevidade da reflexão, mas na falta de intervalo para
que ela ressoe. Um bom pensamento precisa de eco. Não é preciso escrever longo,
mas é preciso demorar-se. O perigo não está nas reflexões curtas, mas na
vida sem pausa para refletir.
Pensar,
afinal, não é construir castelos. Às vezes, é só perceber que há vento. E isso
basta.
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