Há
palavras que parecem inventadas por poetas em dias de vento. “Calendoscópio”
soa assim — e é uma mistura entre calendário e caleidoscópio. Um
objeto imaginário que organiza o tempo com beleza instável, como se cada dia
fosse um fragmento colorido girando num tubo de emoções, tarefas, encontros e
memórias.
Vivemos
presos a calendários: agendas, prazos, compromissos. Mas o que aconteceria se
olhássemos para nossos dias como quem gira um caleidoscópio? Em vez de ver o
tempo como uma linha reta, enxergaríamos padrões momentâneos, geometrias
afetivas, repetições com variações sutis. Uma segunda-feira pode parecer igual
à anterior, mas o humor muda, o sol nasce com outra cor, alguém nos sorri
diferente.
O
filósofo Gaston Bachelard dizia que o tempo não é contínuo, mas composto
de instantes poéticos, rupturas e recomeços. O calendoscópio,
então, seria o símbolo dessa percepção mais sensível do tempo: não apenas
contar os dias, mas sentir seus formatos, cores e ritmos.
Em
vez de marcar tudo no relógio, quem sabe a gente devesse perguntar: como foi
o desenho do meu dia hoje? Houve harmonia ou desalinho? Girou suave ou
estalou como vidro?
O
calendoscópio não nos dá controle — nos convida à contemplação.
Girar o tempo como quem brinca, ver beleza nos fragmentos e aceitar que, no fim
das contas, todo dia tem sua arte secreta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário