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quarta-feira, 2 de julho de 2025

Calendoscópio


Há palavras que parecem inventadas por poetas em dias de vento. “Calendoscópio” soa assim — e é uma mistura entre calendário e caleidoscópio. Um objeto imaginário que organiza o tempo com beleza instável, como se cada dia fosse um fragmento colorido girando num tubo de emoções, tarefas, encontros e memórias.

Vivemos presos a calendários: agendas, prazos, compromissos. Mas o que aconteceria se olhássemos para nossos dias como quem gira um caleidoscópio? Em vez de ver o tempo como uma linha reta, enxergaríamos padrões momentâneos, geometrias afetivas, repetições com variações sutis. Uma segunda-feira pode parecer igual à anterior, mas o humor muda, o sol nasce com outra cor, alguém nos sorri diferente.

No caleidoscópio do tempo, feriados brilham como fragmentos dourados, e há também cacos escuros: os dias pesados, as esperas longas, os “nãos” que levamos. Mas tudo se rearranja. Nada fica fixo por muito tempo. Aquilo que hoje parece um caos, amanhã pode revelar um desenho surpreendente.

O filósofo Gaston Bachelard dizia que o tempo não é contínuo, mas composto de instantes poéticos, rupturas e recomeços. O calendoscópio, então, seria o símbolo dessa percepção mais sensível do tempo: não apenas contar os dias, mas sentir seus formatos, cores e ritmos.

Em vez de marcar tudo no relógio, quem sabe a gente devesse perguntar: como foi o desenho do meu dia hoje? Houve harmonia ou desalinho? Girou suave ou estalou como vidro?

O calendoscópio não nos dá controle — nos convida à contemplação. Girar o tempo como quem brinca, ver beleza nos fragmentos e aceitar que, no fim das contas, todo dia tem sua arte secreta.

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