Outro dia, conversando com um amigo sobre decisões difíceis, ele me disse: "Às vezes, o melhor é não saber". Fiquei com essa frase na cabeça. Parecia uma daquelas desculpas para evitar lidar com a realidade, mas ao mesmo tempo carregava um tipo estranho de sabedoria. Quantas vezes, ao nos depararmos com escolhas impossíveis, não fomos salvos justamente pela ignorância? A ideia de que não saber pode ser uma providência parece paradoxal, mas carrega um peso existencial profundo.
No
mundo contemporâneo, estamos obcecados pelo conhecimento. Queremos entender,
prever, dominar. No entanto, há momentos em que saber demais paralisa,
angustia, destrói possibilidades. Imagine um casal que tem um filho com uma
doença rara. Se tivessem conhecimento antecipado de todas as dores, desafios e
incertezas que enfrentariam, será que teriam seguido em frente? E, no entanto,
ao se lançarem no desconhecido, muitas vezes descobrem um amor e uma força que
jamais suspeitariam ter.
Jean-Paul
Sartre, um dos pilares do existencialismo, falava sobre a
angústia da liberdade. Para ele, cada escolha carrega consigo um peso, pois ao
decidir, eliminamos todas as outras possibilidades. No entanto, será que sempre
escolheríamos se víssemos claramente todas as consequências? A ignorância, em
certas situações, não apenas protege, mas também permite a ação. O
desconhecimento nos dá coragem para dar passos que, de outra forma, nos
pareceriam impossíveis.
Pensemos
em revoluções. Muitas foram feitas por pessoas que não tinham plena consciência
dos perigos e dificuldades envolvidos. Se soubessem antecipadamente do exato
preço de cada batalha, talvez nunca tivessem lutado. No entanto, foi justamente
essa ignorância que permitiu que o novo emergisse, que mudanças acontecessem.
Isso
não significa que devamos enaltecer a ignorância como um valor absoluto. A
questão é outra: há momentos em que não saber é, paradoxalmente, a única forma
de seguir adiante. A providência da ignorância não é uma recusa da verdade, mas
um espaço de respiro diante da brutalidade do real. Não saber o que o futuro
nos reserva nos permite jogar o jogo da vida e lutar por uma vida melhor com
perspectivas abertas dependendo de nossa força de vontade, iniciativa e
resiliência.
O
que fazer então? Aceitar que há momentos em que o saber pode ser um fardo, e
que a vida, em sua ironia sutil, às vezes nos protege ao não nos revelar tudo.
A ignorância pode ser um acaso misericordioso, um respiro entre os abismos da
existência.
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